Samuel Szwarc
Até que enfim alguém pôs o dedo na ferida. Em artigo recente – Marketing ou Relações Públicas?, publicado no Estado dia 8 de outubro, Cândido Teobaldo de Souza Andrade, um dos mais antigos e competentes profissionais de Relações Públicas de nosso país, aborda o que ele pitorescamente chamou de "transmarketing", isto é, "a sem cerimônia com que profissionais ditos de marketing (nem sei se são em sua maioria) entram no campo de atuação dos profissionais de Relações Públicas, sob nova capa e denominações esdrúxulas", diz ele, com toda razão.
Então, tome lá marketing social, marketing cultural, marketing político e outros "ing". Tem gente até afirmando ser o "criador" do endomarketing no Brasil, nova capa das velhas e boas Relações Humanas e Relações Públicas internas conhecidas há 70 anos nos Estados Unidos e há uns 50 anos no Brasil. A memória tão pouco cultivada em nosso país e o desrespeito profissional chegaram a tal ponto que tudo isso é encarado normalmente, como se fosse uma simples evolução de matérias e abordagens. Arcaísmo? Do tipo mudar freguês pra cliente ou reclame por anúncio? Não é, o abuso vai longe. Mudar o rótulo ainda das velhas e boas vendas por telefone (tal como as conhecemos nos anos 60 no Grupo LTB, por exemplo) para telemarketing também só serve para falsas impressões de alguma contemporaneidade profissional. A verdadeira contemporaneidade não está no rótulo, mas no uso efetivo de moderno instrumento para as velhas necessidades.
Cândido Teobaldo tem razão no seu esperneio, ao qual me junto com toda a humildade. Acontece que eu também acompanhei a luta de tantos companheiros (liderados pelo Ney Peixoto do Vale) pela regulamentação da profissão de Relações Públicas no Brasil, inclusive quando temerariamente organizamos no Rio de Janeiro, em 1966, se não me falha a memória, um Congresso Internacional de Relações Públicas. Vejam só, que audácia! Acho que só umas 20 empresas naquela época sabiam o que eram ou praticavam Relações Públicas.
Mas a profissão teve inegavelmente nesses últimos 15 anos uma "capitis diminutio" sensível, não importa aqui analisar razões, ensejando essas gradativas substituições semânticas ou não observadas no artigo do Cândido Teobaldo, como Relações Públicas com a comunidade passou a ser marketing social; Relações Públicas com as escolas, marketing cultural; Relações Públicas com os poderes públicos é agora marketing político; Relações Públicas com o público interno virou endomarketing e assim por diante.
Quem sabe tem razão o famoso consultor americano Regis MacKenna que, em recente ensaio no Havard Business Review, afirmou, literalmente que "Marketing é tudo". Pode ser, mas o que se faz no Brasil de superficialidade em nome deste propalado marketing é uma glória.
O marketing sério, dos bons profissionais, sabe que Relações Públicas & Marketing andam juntos, não misturam as coisas e não esquecem o passado. Só espero que nesses necessários competentes anos 90 os empresários saibam cada vez mais distinguir o joio do trigo.
Originalmente publicado no jornal O Estado de S. Paulo, São Paulo, 21 nov. 1991. Empresas, p. 2.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Agregando valor com a imprensa
Nemércio Nogueira
Graças ao grande avanço da gestão empresarial no Brasil, ninguém mais duvida de que o bom relacionamento com a mídia não só é indispensável como efetivamente agrega valor às empresas e marcas. Mas por que isso acontece e de que forma esse investimento produz incremento ao valor das companhias? Primeiramente vamos raciocinar pela ótica da defesa institucional da imagem da empresa. O avanço da democracia exige que pessoas, entidades, órgãos públicos e empresas se exponham cada vez mais ao julgamento do público. E a mídia é fundamental nesse processo. O crescimento exponencial das comunicações, que amplia todas as liberdades, também potencializa o papel da mídia: TV, rádio, jornais, revistas, blogs, websites e o que mais surgir. A empresa que investe em Relações Públicas e no relacionamento com a mídia estará preparada, com normas e procedimentos, para enfrentar as questões e emergências de comunicação jornalística no caso de crises institucionais. Seus executivos também estarão pessoalmente preparados. E essa preparação pessoal — mediante workshops de media training, por exemplo — é da maior importância, porque nenhuma empresa tem voz própria. Elas só falam pela boca de seus executivos, nem sempre donos de talento inato para fazer pronunciamentos públicos, dar entrevistas e suportar a pressão de uma entrevista coletiva no ambiente constrangedor de uma crise de imagem institucional da empresa. Investir no relacionamento com a mídia ajuda também a evitar ou combater boatos. A divulgação sistemática dos fatos relevantes da vida da empresa e de suas marcas não só permite que a opinião pública e os jornalistas as conheçam — podendo, assim, construir uma muralha de credibilidade que impeça que qualquer boato prospere —, mas também cria uma interface permanente com a imprensa, que facilita o diálogo e os esclarecimentos. O resultado publicado das entrevistas dos executivos da empresa será melhor se eles receberem treinamento para isso (media training). Preparando previamente suas entrevistas, prevendo as perguntas mais incômodas, enumerando as principais mensagens que pretendem transmitir, conhecendo as técnicas de perguntas e respostas, suas entrevistas serão mais eficazes sob o aspecto do interesse da empresa e do próprio perfil público do executivo. Quando a empresa tiver necessidade de se relacionar mais intensamente com os jornalistas, os canais de comunicação estarão azeitados com eles e facilmente utilizáveis se a firma investir permanentemente no relacionamento com a imprensa. Sempre que precisar recorrer aos jornalistas, a empresa terá possibilidade de acesso em clima cordial, graças à credibilidade construída ao longo do tempo em que ela investe nesse relacionamento. Passando da defensiva para a ofensiva, vejamos alguns aspectos em que a empresa poderá apoiar-se na imprensa para promover proativamente sua reputação institucional e a de suas marcas. Com a crescente importância da boa governança corporativa para que a empresa tenha imagem favorável, a divulgação jornalística e a abertura da empresa para prestar esclarecimentos à imprensa são de grande valia a fim de demonstrar à opinião pública a transparência da gestão. O investimento em relações com a mídia também facilita a divulgação de fatos positivos da vida de uma empresa — novos investimentos, fábricas, iniciativas negociais, atividades de preservação ambiental etc. A divulgação das mensagens e posicionamentos institucionais de uma empresa é igualmente favorecida quando ela dispõe de relação permanente e regular com os jornalistas, tornando mais fácil recorrer à imprensa para dar ao público suas opiniões sobre medidas governamentais, circunstâncias de mercado etc. Também a divulgação jornalística de produtos, serviços e de suas características ganha maiores possibilidades por meio do investimento permanente no relacionamento com a mídia. Evidentemente não se cogita de substituir com notícias a publicidade paga, mas sim de potencializar seus efeitos mediante o "endosso" do interesse jornalístico pelo novo produto ou serviço. Ao divulgar jornalisticamente a si própria e suas marcas, uma empresa reforça sua reputação e imagem institucional, ampliando a atração que exerce sobre os melhores talentos do mercado, a fim de aprimorar seus recursos humanos. Essas são algumas vinhetas que demonstram de que forma o investimento sistemático no relacionamento com a imprensa ajuda uma empresa e suas marcas a aprimorar a imagem junto à opinião pública, inclusive aos olhos de instituições financeiras, fornecedores, acionistas e os demais stakeholders.
Graças ao grande avanço da gestão empresarial no Brasil, ninguém mais duvida de que o bom relacionamento com a mídia não só é indispensável como efetivamente agrega valor às empresas e marcas. Mas por que isso acontece e de que forma esse investimento produz incremento ao valor das companhias? Primeiramente vamos raciocinar pela ótica da defesa institucional da imagem da empresa. O avanço da democracia exige que pessoas, entidades, órgãos públicos e empresas se exponham cada vez mais ao julgamento do público. E a mídia é fundamental nesse processo. O crescimento exponencial das comunicações, que amplia todas as liberdades, também potencializa o papel da mídia: TV, rádio, jornais, revistas, blogs, websites e o que mais surgir. A empresa que investe em Relações Públicas e no relacionamento com a mídia estará preparada, com normas e procedimentos, para enfrentar as questões e emergências de comunicação jornalística no caso de crises institucionais. Seus executivos também estarão pessoalmente preparados. E essa preparação pessoal — mediante workshops de media training, por exemplo — é da maior importância, porque nenhuma empresa tem voz própria. Elas só falam pela boca de seus executivos, nem sempre donos de talento inato para fazer pronunciamentos públicos, dar entrevistas e suportar a pressão de uma entrevista coletiva no ambiente constrangedor de uma crise de imagem institucional da empresa. Investir no relacionamento com a mídia ajuda também a evitar ou combater boatos. A divulgação sistemática dos fatos relevantes da vida da empresa e de suas marcas não só permite que a opinião pública e os jornalistas as conheçam — podendo, assim, construir uma muralha de credibilidade que impeça que qualquer boato prospere —, mas também cria uma interface permanente com a imprensa, que facilita o diálogo e os esclarecimentos. O resultado publicado das entrevistas dos executivos da empresa será melhor se eles receberem treinamento para isso (media training). Preparando previamente suas entrevistas, prevendo as perguntas mais incômodas, enumerando as principais mensagens que pretendem transmitir, conhecendo as técnicas de perguntas e respostas, suas entrevistas serão mais eficazes sob o aspecto do interesse da empresa e do próprio perfil público do executivo. Quando a empresa tiver necessidade de se relacionar mais intensamente com os jornalistas, os canais de comunicação estarão azeitados com eles e facilmente utilizáveis se a firma investir permanentemente no relacionamento com a imprensa. Sempre que precisar recorrer aos jornalistas, a empresa terá possibilidade de acesso em clima cordial, graças à credibilidade construída ao longo do tempo em que ela investe nesse relacionamento. Passando da defensiva para a ofensiva, vejamos alguns aspectos em que a empresa poderá apoiar-se na imprensa para promover proativamente sua reputação institucional e a de suas marcas. Com a crescente importância da boa governança corporativa para que a empresa tenha imagem favorável, a divulgação jornalística e a abertura da empresa para prestar esclarecimentos à imprensa são de grande valia a fim de demonstrar à opinião pública a transparência da gestão. O investimento em relações com a mídia também facilita a divulgação de fatos positivos da vida de uma empresa — novos investimentos, fábricas, iniciativas negociais, atividades de preservação ambiental etc. A divulgação das mensagens e posicionamentos institucionais de uma empresa é igualmente favorecida quando ela dispõe de relação permanente e regular com os jornalistas, tornando mais fácil recorrer à imprensa para dar ao público suas opiniões sobre medidas governamentais, circunstâncias de mercado etc. Também a divulgação jornalística de produtos, serviços e de suas características ganha maiores possibilidades por meio do investimento permanente no relacionamento com a mídia. Evidentemente não se cogita de substituir com notícias a publicidade paga, mas sim de potencializar seus efeitos mediante o "endosso" do interesse jornalístico pelo novo produto ou serviço. Ao divulgar jornalisticamente a si própria e suas marcas, uma empresa reforça sua reputação e imagem institucional, ampliando a atração que exerce sobre os melhores talentos do mercado, a fim de aprimorar seus recursos humanos. Essas são algumas vinhetas que demonstram de que forma o investimento sistemático no relacionamento com a imprensa ajuda uma empresa e suas marcas a aprimorar a imagem junto à opinião pública, inclusive aos olhos de instituições financeiras, fornecedores, acionistas e os demais stakeholders.
RELAÇÕES PÚBLICAS E O MARKETING
Vivemos um momento de grande valorização das Relações Públicas.
As instituições e as empresas, seus dirigentes e gestores, cada vez mais compreendem e valorizam a necessidade de traçarem estratégias - a partir de seus planejamentos estratégicos - para suas organizações se relacionarem, de foram adequada, com os inúmeros públicos que têm impacto nas suas atividades e nos seus negócios. Mesmo que muitas vezes esses empresários e gestores não dêem a essa necessidade fundamental o nome de Relações Públicas, podemos dizer que as digitais dessa ferramenta estratégica estão diluídas, ou mesmo norteando, a atividades de Assessoria de Imprensa, Lobby, Comunicação Corporativa e Comunicação de Marketing. São inúmeros os exemplos dessa premissa.
O que são os programas de relacionamento Imprensa/Empresa (ou Instituição)? Como se articulam as ações do chamado Marketing Social? Ou a Comunicação de Crises? Ou as centenas de programas de Comunicação empresarial direcionados para diversos públicos, como acionistas, consumidores, empregados, formadores de opinião, comunidades no entorno dos negócios e autoridades?
São todos eles os programas de Comunicação que buscam atingir inúmeros objetivos, entre eles a qualidade total, a re-engenharia, a implantação de novos métodos de gestão e novas tecnologias, além do comprometimento, quando não o consentimento, de públicos sem os quais as intenções e as organizações e seus dirigentes não conseguem chegar a lugar nenhum.
Em uma linguagem muito simples, podemos dizer que devemos um momento histórico em que as instituições e as empresas estão literalmente cercadas por públicos com renovado poder político.
Manifestações disso são a atuação das Organizações Não-Governamentais (ONGs), a dona-de-casa que aciona o Procon, o cidadão que protesta nas colunas especializadas em defesa do consumidor em jornais e revistas, e assim por diante. Ou seja, nesse “mar de públicos”, existe a necessidade profissional e estratégica do arsenal teórico e histórico do que chamamos de Relações Públicas. Que organização empresarial ou instituição atuando em uma sociedade como a brasileira, a um só tempo complexa e dinâmica, pode prescindir de nortear as suas ações institucionais e atividades de negócio a partir de um modelo mínimo de Comunicação? A rigor, nenhuma; a não ser que estejamos tratando de uma organização descompromissada com o ambiente onde atua, propensa ao aventurentismo como prática de ação e, por isso mesmo, fadada ao desaparecimento.
Nesse cenário em constante mutação, é inadmissível, portanto, a opção pelo vôo cego, sem plano e sem radar.
O que se requer agora é um planejamento estratégico de Comunicação Social que detecte os públicos com impacto nos negócios e nas atividades; que determine as mídias adequadas para se chegar a esses públicos; e que também sinalize - para que se evite jogar dinheiro e energia pela janela - a integração das inúmeras ferramentas de Comunicação de uma organização ou instituição. Os melhores cases recentes da Comunicação Social brasileira foram conduzidos por profissionais de Relações Públicas. Basta lembrar a ação de Walter Nori, em 1985, frente à Comunicação Rhodia, a contribuição de Vera Giangrande no reposicionamento dos supermercados Pão de Açúcar ou as ações de João Alberto Ianhez, na área de Comunicação do Grupo Fenícia.
O sucesso desses profissionais de Relações Públicas, e o respeito que conquistaram junto a profissionais de outros setores da Comunicação, se deu graças às suas sólidas formações culturais e profissionais, além de seus espíritos de combatentes.
Isso os levou a posicionar corretamente a ferramenta de Relações Públicas na Comunicação das organizações em que trabalharam ou trabalham, e, de resto, também junto à sociedade.
Fonte: Jornal O Dia - Propaganda - pg 4 - 18.6.1997, por Paulo Nassar, jornalista, secretário-executivo da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) e autor dos livros O que é Comunicação Empresarial e A Comunicação da Pequena Empresa. www.aberje.com.br
As instituições e as empresas, seus dirigentes e gestores, cada vez mais compreendem e valorizam a necessidade de traçarem estratégias - a partir de seus planejamentos estratégicos - para suas organizações se relacionarem, de foram adequada, com os inúmeros públicos que têm impacto nas suas atividades e nos seus negócios. Mesmo que muitas vezes esses empresários e gestores não dêem a essa necessidade fundamental o nome de Relações Públicas, podemos dizer que as digitais dessa ferramenta estratégica estão diluídas, ou mesmo norteando, a atividades de Assessoria de Imprensa, Lobby, Comunicação Corporativa e Comunicação de Marketing. São inúmeros os exemplos dessa premissa.
O que são os programas de relacionamento Imprensa/Empresa (ou Instituição)? Como se articulam as ações do chamado Marketing Social? Ou a Comunicação de Crises? Ou as centenas de programas de Comunicação empresarial direcionados para diversos públicos, como acionistas, consumidores, empregados, formadores de opinião, comunidades no entorno dos negócios e autoridades?
São todos eles os programas de Comunicação que buscam atingir inúmeros objetivos, entre eles a qualidade total, a re-engenharia, a implantação de novos métodos de gestão e novas tecnologias, além do comprometimento, quando não o consentimento, de públicos sem os quais as intenções e as organizações e seus dirigentes não conseguem chegar a lugar nenhum.
Em uma linguagem muito simples, podemos dizer que devemos um momento histórico em que as instituições e as empresas estão literalmente cercadas por públicos com renovado poder político.
Manifestações disso são a atuação das Organizações Não-Governamentais (ONGs), a dona-de-casa que aciona o Procon, o cidadão que protesta nas colunas especializadas em defesa do consumidor em jornais e revistas, e assim por diante. Ou seja, nesse “mar de públicos”, existe a necessidade profissional e estratégica do arsenal teórico e histórico do que chamamos de Relações Públicas. Que organização empresarial ou instituição atuando em uma sociedade como a brasileira, a um só tempo complexa e dinâmica, pode prescindir de nortear as suas ações institucionais e atividades de negócio a partir de um modelo mínimo de Comunicação? A rigor, nenhuma; a não ser que estejamos tratando de uma organização descompromissada com o ambiente onde atua, propensa ao aventurentismo como prática de ação e, por isso mesmo, fadada ao desaparecimento.
Nesse cenário em constante mutação, é inadmissível, portanto, a opção pelo vôo cego, sem plano e sem radar.
O que se requer agora é um planejamento estratégico de Comunicação Social que detecte os públicos com impacto nos negócios e nas atividades; que determine as mídias adequadas para se chegar a esses públicos; e que também sinalize - para que se evite jogar dinheiro e energia pela janela - a integração das inúmeras ferramentas de Comunicação de uma organização ou instituição. Os melhores cases recentes da Comunicação Social brasileira foram conduzidos por profissionais de Relações Públicas. Basta lembrar a ação de Walter Nori, em 1985, frente à Comunicação Rhodia, a contribuição de Vera Giangrande no reposicionamento dos supermercados Pão de Açúcar ou as ações de João Alberto Ianhez, na área de Comunicação do Grupo Fenícia.
O sucesso desses profissionais de Relações Públicas, e o respeito que conquistaram junto a profissionais de outros setores da Comunicação, se deu graças às suas sólidas formações culturais e profissionais, além de seus espíritos de combatentes.
Isso os levou a posicionar corretamente a ferramenta de Relações Públicas na Comunicação das organizações em que trabalharam ou trabalham, e, de resto, também junto à sociedade.
Fonte: Jornal O Dia - Propaganda - pg 4 - 18.6.1997, por Paulo Nassar, jornalista, secretário-executivo da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) e autor dos livros O que é Comunicação Empresarial e A Comunicação da Pequena Empresa. www.aberje.com.br
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
"A corrupção no Brasil é uma herança portuguesa" -
Isabel Lucas Entrevista.
Dez anos de investigação resultaram numa reportagem que conta os 13 anos que a corte de D. João VI passou no Rio de Janeiro como uma aventura. Para lá da caricatura, o jornalista Laurentino Gomes defende que o DNA do Brasil está em 1808, ano em que uma corte "corrupta" fugiu de Napoleão O subtítulo deste livro é uma provocação?Essa é uma técnica jornalística: provocar o leitor. Se eu pusesse assim: A Corte Portuguesa - Novas Dimensões, venderia dois exemplares e teria muito prestígio na academia. Prefiro ser lido. O título é uma técnica jornalística como fazer uma chamada de capa, um bom lead. Este livro foi todo pensado como uma reportagem?Sem dúvida. O título é para provocar. Até porque a rainha era louca, o príncipe era medroso, a corte era corrupta e eles enganaram Napoleão. Tudo isto é verdade. Mas há aqui um lado caricatural associado a esta corte que é explorado. O que mais me encantou foi o facto de lidar com pessoas com características muito humanas. Não há ali heróis, reis sábios, rainhas perfeitas. São todos muito frágeis, como D. João, que era um príncipe solitário, tímido, que não tinha sido preparado para governar. Só foi rei porque o irmão, D. José tinha morrido com varíola, a mãe ensandeceu e ele assumiu o trono numa situação muito improvisada. Era uma pessoa dada a crises de depressão. Governava um país de recursos muito escassos. Não tinha exército, não tinha recursos naturais. Não se pode é resumir o papel que essas pessoas tiveram há 200 anos a uma caricatura. Foram muito mais do que isso. Essas pessoas desempenharam um papel muito importante na História do Brasil e de Portugal. Não se pode resumi-las a caricaturas. Mas esse lado da caricatura sobrepõe-se, tanto em Portugal como no Brasil, não é?Sim, mesmo entre os historiadores. Houve muitos que carregaram na caricatura. Tenho uma explicação para isso: depende do lado em que estão os historiadores. O lado caricato do D. João, como um rei abobalhado, incapaz de tomar decisões, que comia franguinhos todo o dia vem de Portugal e não do Brasil. No Brasil, D. João sempre foi um rei visto de forma mais generosa. O rei incapaz vem da visão portuguesa. Os portugueses se ressentem da fuga do rei para o Brasil.E é dessa tese que este livro parte. A de que o que aconteceu em 1808 foi uma fuga. Porquê?Foi uma questão semântica com que me deparei. Existem muitos malabarismos semânticos. Há historiadores que falam em "mudança", "transferência voluntária", "transmigração". Isso não passa de uma tentativa de disfarçar o que realmente houve. Em 1807 D. João não tinha alternativa. Mas não se deve confundir fuga com cobardia. Numa situação de desvantagem, num campo de batalha, às vezes fugir é uma atitude corajosa. Foi uma decisão orientada pelos seus ministros. Não se deve confundir a pessoa do D. João com a corte portuguesa. D. João tinha fragilidades muito grandes. Era muito indeciso, mas estava rodeado de homens muito sábios. Consciente das suas fragilidades, delega poderes a outros que governam em seu lugar. Como é que esse rei tímido, medroso, inseguro, conseguiu enfrentar pressões poderosíssimas num momento tão decisivo da história e sobreviver, e tomar as decisões aparentemente correctas? Era assessorado por um grupo de pessoas experientes que salvaram a sua biografia.Outra tese é a de que o Brasil não nasceu há 500 anos mas há 200.Até 1807 não existia um Brasil, mas vários brasis; não havia um sentimento de identidade nacional. As rivalidades eram muito grandes. Se D. João VI não fosse para o Rio de Janeiro e passasse a funcionar como elemento agregador dos interesses das diferentes províncias, o Brasil provavelmente se teria pulverizado, desagregado em três ou quanto repúblicas. Até 1807, o Brasil era uma fazenda de Portugal. Quando D. João vai embora, em 1821, o Brasil estava pronto para se tornar independente. D. Pedro é visto como herói pela sociedade, mas o verdadeiro herói é o D. João. O Brasil nasce, então, em 1808? O DNA do Brasil está em 1808. Em 1500 foi descoberto, mas foi criado como país em 1808. Para o bem e para o mal. Esse período da corte portuguesa no Brasil foi de muita corrupção, muita promiscuidade nos negócios públicos e privados. D. João inaugurou o sistema de troca de favores .Significa que a corrupção no Brasil é uma herança portuguesa?(risos) Sim. De certa forma, é uma herança portuguesa. Esse tipo de promiscuidade já existia, mas foi exacerbado. O rei chegou precisando de dinheiro e os ricos da colónia passaram a financiar o rei em troca de benefícios e de títulos de nobreza. Durante os 13 anos em que a corte permaneceu no Brasil houve mais títulos de nobreza do quem em todos os 500 ou 600 anos anteriores da História de Portugal. Esse encontro entre uma corte pobre e uma colónia plebeia é fascinante. Houve uma troca de interesses e muita corrupção. O positivo é que surgiu um país grande de fronteiras preservadas, o grande herdeiro da cultura portuguesa no mundo. Para o bem e para o mal, o DNA de Brasil, está em 1808.Fonte: Diário de Notícias (Lisboa/Portugal) em 08/02/08
Dez anos de investigação resultaram numa reportagem que conta os 13 anos que a corte de D. João VI passou no Rio de Janeiro como uma aventura. Para lá da caricatura, o jornalista Laurentino Gomes defende que o DNA do Brasil está em 1808, ano em que uma corte "corrupta" fugiu de Napoleão O subtítulo deste livro é uma provocação?Essa é uma técnica jornalística: provocar o leitor. Se eu pusesse assim: A Corte Portuguesa - Novas Dimensões, venderia dois exemplares e teria muito prestígio na academia. Prefiro ser lido. O título é uma técnica jornalística como fazer uma chamada de capa, um bom lead. Este livro foi todo pensado como uma reportagem?Sem dúvida. O título é para provocar. Até porque a rainha era louca, o príncipe era medroso, a corte era corrupta e eles enganaram Napoleão. Tudo isto é verdade. Mas há aqui um lado caricatural associado a esta corte que é explorado. O que mais me encantou foi o facto de lidar com pessoas com características muito humanas. Não há ali heróis, reis sábios, rainhas perfeitas. São todos muito frágeis, como D. João, que era um príncipe solitário, tímido, que não tinha sido preparado para governar. Só foi rei porque o irmão, D. José tinha morrido com varíola, a mãe ensandeceu e ele assumiu o trono numa situação muito improvisada. Era uma pessoa dada a crises de depressão. Governava um país de recursos muito escassos. Não tinha exército, não tinha recursos naturais. Não se pode é resumir o papel que essas pessoas tiveram há 200 anos a uma caricatura. Foram muito mais do que isso. Essas pessoas desempenharam um papel muito importante na História do Brasil e de Portugal. Não se pode resumi-las a caricaturas. Mas esse lado da caricatura sobrepõe-se, tanto em Portugal como no Brasil, não é?Sim, mesmo entre os historiadores. Houve muitos que carregaram na caricatura. Tenho uma explicação para isso: depende do lado em que estão os historiadores. O lado caricato do D. João, como um rei abobalhado, incapaz de tomar decisões, que comia franguinhos todo o dia vem de Portugal e não do Brasil. No Brasil, D. João sempre foi um rei visto de forma mais generosa. O rei incapaz vem da visão portuguesa. Os portugueses se ressentem da fuga do rei para o Brasil.E é dessa tese que este livro parte. A de que o que aconteceu em 1808 foi uma fuga. Porquê?Foi uma questão semântica com que me deparei. Existem muitos malabarismos semânticos. Há historiadores que falam em "mudança", "transferência voluntária", "transmigração". Isso não passa de uma tentativa de disfarçar o que realmente houve. Em 1807 D. João não tinha alternativa. Mas não se deve confundir fuga com cobardia. Numa situação de desvantagem, num campo de batalha, às vezes fugir é uma atitude corajosa. Foi uma decisão orientada pelos seus ministros. Não se deve confundir a pessoa do D. João com a corte portuguesa. D. João tinha fragilidades muito grandes. Era muito indeciso, mas estava rodeado de homens muito sábios. Consciente das suas fragilidades, delega poderes a outros que governam em seu lugar. Como é que esse rei tímido, medroso, inseguro, conseguiu enfrentar pressões poderosíssimas num momento tão decisivo da história e sobreviver, e tomar as decisões aparentemente correctas? Era assessorado por um grupo de pessoas experientes que salvaram a sua biografia.Outra tese é a de que o Brasil não nasceu há 500 anos mas há 200.Até 1807 não existia um Brasil, mas vários brasis; não havia um sentimento de identidade nacional. As rivalidades eram muito grandes. Se D. João VI não fosse para o Rio de Janeiro e passasse a funcionar como elemento agregador dos interesses das diferentes províncias, o Brasil provavelmente se teria pulverizado, desagregado em três ou quanto repúblicas. Até 1807, o Brasil era uma fazenda de Portugal. Quando D. João vai embora, em 1821, o Brasil estava pronto para se tornar independente. D. Pedro é visto como herói pela sociedade, mas o verdadeiro herói é o D. João. O Brasil nasce, então, em 1808? O DNA do Brasil está em 1808. Em 1500 foi descoberto, mas foi criado como país em 1808. Para o bem e para o mal. Esse período da corte portuguesa no Brasil foi de muita corrupção, muita promiscuidade nos negócios públicos e privados. D. João inaugurou o sistema de troca de favores .Significa que a corrupção no Brasil é uma herança portuguesa?(risos) Sim. De certa forma, é uma herança portuguesa. Esse tipo de promiscuidade já existia, mas foi exacerbado. O rei chegou precisando de dinheiro e os ricos da colónia passaram a financiar o rei em troca de benefícios e de títulos de nobreza. Durante os 13 anos em que a corte permaneceu no Brasil houve mais títulos de nobreza do quem em todos os 500 ou 600 anos anteriores da História de Portugal. Esse encontro entre uma corte pobre e uma colónia plebeia é fascinante. Houve uma troca de interesses e muita corrupção. O positivo é que surgiu um país grande de fronteiras preservadas, o grande herdeiro da cultura portuguesa no mundo. Para o bem e para o mal, o DNA de Brasil, está em 1808.Fonte: Diário de Notícias (Lisboa/Portugal) em 08/02/08
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
Cantar sobre o ovo bom e esconder o gorado
José Nêumanne
O carisma do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - ou seu teflon, ou sua blindagem, seja lá o que for - desafia até o senso comum e a sabedoria dos mais velhos. Minha avó paterna, Nanita Germano, dizia duas coisas que a experiência de sua longevidade confirmara e reconfirmara, mas o presidente tem desmentido nestes cinco anos de gestão. A velha sertaneja jurava que “em boca fechada não entra mosquito” e também que “quem fala muito dá bom dia a cavalo”. Um contemporâneo e como ela natural da aprazível cidade serrana de Luís Gomes, na serra do mesmo nome, no Rio Grande do Norte, o comerciante Gaudêncio Torquato, pai do colega homônimo desta página, ensinava a quem se dispusesse a ouvir a ancestral filosofia dos mascates: “Quem quer vender ouve o freguês e diz amém.”Egresso de outra região serrana de clima frio no meio do sertão, a de Garanhuns, em Pernambuco, Sua Excelência, contudo, pisoteia essas tiradas de lucidez e sabedoria popular com a mesma freqüência com que despreza os cânones gramaticais. Na semana anterior à folga nacional generalizada decretada por Momo, o chefe do governo driblou a coerência (a “virtude dos imbecis”, segundo Chatô, outro “rei do Brasil”), jogou a lógica aristotélica para escanteio e mandou às favas o óbvio ululante, sem, contudo, pôr em risco o apoio da galera nas arquibancadas fiéis.Lula passou cinco anos comemorando as constatações periódicas feitas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) de que a devastação da Amazônia estava sendo detida. Tratava-se de um sofisma simplório: clareiras abertas na floresta para pastagens ou por motosserras continuavam devorando a mata virgem, mas a um ritmo mais lento, como “nunca antes na história deste país”. Com o mesmo ímpeto com que soltava fogos de artifício às boas notícias, contudo, ele vituperou contra a fonte delas quando esta constatou o oposto. Fiel à máxima pragmática que derrubou o sério diplomata Rubens Ricupero do Ministério da Fazenda do governo-tampão de Itamar Franco, de que governos alardeiam boas notícias e tentam esconder as ruins, o presidente cantou sobre o ovo que parecia bom, mas tratou de esconder no borralho o que gorou.No caminho, passou por cima dos fatos, sem constrangimentos. Diante da constatação do Inpe de que foram desmatados 3.235 quilômetros quadrados entre agosto e dezembro do ano passado, o que fez a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, acionar o alarme, seu instinto de político o fez convocar imediatamente uma reunião com seis ministros para tratar do problema. Depois, seguindo sua estratégia de agir sem pensar muito para não deixar os outros pensarem antes, suspendeu o crédito concedido a agricultores e pecuaristas dos municípios onde mais se desmatou. Da noite para o dia, aos pecuaristas e latifundiários de hábito se juntaram novos vilões: os pequenos agricultores beneficiados pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar. E resolveu adotar de novo a solução malograda do recadastramento de 80 mil propriedades, com 100 milhões de hectares. Nada disso, é claro, vai deter a velocidade da devastação da floresta tropical, mas também nada disso reverterá sua estratégia do ziguezague na gestão e, sobretudo, no discurso sobre ela.Com um estoque inesgotável de metáforas e um fôlego que deixa a oposição zonza, ele não avançou um milímetro no rumo do que fazer com uma tragédia que assusta o mundo (daí os simpáticos ingleses do Guardian terem perdido a paciência com ele) e fez baixar uma cortina de fumaça sobre o assunto. Mas não conseguiu ocultar a contradição entre seus ufanistas programas que dependem da expansão da área agrícola (dos quais a estrela é o do biocombustível) e a preservação da mata. Nem esconder a evidência de que o governo federal é, de longe, o maior latifundiário da região, com 76% das terras da Amazônia Legal, e não tem idéia de como cuidar delas, como denunciou, em nota, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).Desconhece sua vocação panglossiana, (nota: que ou quem se caracteriza por grande otimismo, especialmente em face de severas adversidades) contudo, quem imaginou que isso pudesse abatê-lo. Pois, com a mesma veemência com que açoitou os vendilhões do santuário ecológico devastado, passou a chicotear os alarmistas que se assustaram com o aviso do Inpe. Sem se incomodar com a possibilidade de engolir algum mosquito, quem sabe um transmissor da febre amarela silvestre, comparou: “Você vai ao médico detectar que está com um tumorzinho e, em vez de fazer biópsia e saber como tratar, já sai dizendo que está com câncer.” Como se ele não tivesse passado um mandato inteiro e o primeiro ano do segundo a dar às conclusões do Inpe, até prova em contrário uma instituição científica de sólida reputação, foros de ressonância magnética. E prosseguiu: “É como se você tivesse uma coceira e achasse que é uma doença mais grave.” Ao abandonar o gramado das metáforas futebolísticas e fazer diagnósticos médicos, terá ele confundido prurido com metástase?Como os ingleses do Guardian não lhe tiram votos nem os pecuaristas da Irlanda alteram seu prestígio nas pesquisas eleitorais, no dia seguinte Lula resolveu atacar os europeus que deixaram de comprar carne brasileira alegando problemas sanitários que qualquer patrício está cansado de saber que existem mesmo em nosso rebanho. E, como a autoridade federal é cúmplice na farta produção de pretextos clínicos para o protecionismo da clientela externa, o presidente resolveu bater abaixo da linha da cintura de quem fica do outro lado do balcão, enxotando as boas maneiras e adotando uma atitude temerária para qualquer bom negociante, como sabia Gaudêncio Torquato, o pai: “Eles têm a ‘vaca louca’ e ficam dando palpite aqui.” Dificilmente perderá um voto com isso, mas, ainda assim, terá perdido, além da razão, uma boa ocasião de ficar calado. José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde
O carisma do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - ou seu teflon, ou sua blindagem, seja lá o que for - desafia até o senso comum e a sabedoria dos mais velhos. Minha avó paterna, Nanita Germano, dizia duas coisas que a experiência de sua longevidade confirmara e reconfirmara, mas o presidente tem desmentido nestes cinco anos de gestão. A velha sertaneja jurava que “em boca fechada não entra mosquito” e também que “quem fala muito dá bom dia a cavalo”. Um contemporâneo e como ela natural da aprazível cidade serrana de Luís Gomes, na serra do mesmo nome, no Rio Grande do Norte, o comerciante Gaudêncio Torquato, pai do colega homônimo desta página, ensinava a quem se dispusesse a ouvir a ancestral filosofia dos mascates: “Quem quer vender ouve o freguês e diz amém.”Egresso de outra região serrana de clima frio no meio do sertão, a de Garanhuns, em Pernambuco, Sua Excelência, contudo, pisoteia essas tiradas de lucidez e sabedoria popular com a mesma freqüência com que despreza os cânones gramaticais. Na semana anterior à folga nacional generalizada decretada por Momo, o chefe do governo driblou a coerência (a “virtude dos imbecis”, segundo Chatô, outro “rei do Brasil”), jogou a lógica aristotélica para escanteio e mandou às favas o óbvio ululante, sem, contudo, pôr em risco o apoio da galera nas arquibancadas fiéis.Lula passou cinco anos comemorando as constatações periódicas feitas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) de que a devastação da Amazônia estava sendo detida. Tratava-se de um sofisma simplório: clareiras abertas na floresta para pastagens ou por motosserras continuavam devorando a mata virgem, mas a um ritmo mais lento, como “nunca antes na história deste país”. Com o mesmo ímpeto com que soltava fogos de artifício às boas notícias, contudo, ele vituperou contra a fonte delas quando esta constatou o oposto. Fiel à máxima pragmática que derrubou o sério diplomata Rubens Ricupero do Ministério da Fazenda do governo-tampão de Itamar Franco, de que governos alardeiam boas notícias e tentam esconder as ruins, o presidente cantou sobre o ovo que parecia bom, mas tratou de esconder no borralho o que gorou.No caminho, passou por cima dos fatos, sem constrangimentos. Diante da constatação do Inpe de que foram desmatados 3.235 quilômetros quadrados entre agosto e dezembro do ano passado, o que fez a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, acionar o alarme, seu instinto de político o fez convocar imediatamente uma reunião com seis ministros para tratar do problema. Depois, seguindo sua estratégia de agir sem pensar muito para não deixar os outros pensarem antes, suspendeu o crédito concedido a agricultores e pecuaristas dos municípios onde mais se desmatou. Da noite para o dia, aos pecuaristas e latifundiários de hábito se juntaram novos vilões: os pequenos agricultores beneficiados pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar. E resolveu adotar de novo a solução malograda do recadastramento de 80 mil propriedades, com 100 milhões de hectares. Nada disso, é claro, vai deter a velocidade da devastação da floresta tropical, mas também nada disso reverterá sua estratégia do ziguezague na gestão e, sobretudo, no discurso sobre ela.Com um estoque inesgotável de metáforas e um fôlego que deixa a oposição zonza, ele não avançou um milímetro no rumo do que fazer com uma tragédia que assusta o mundo (daí os simpáticos ingleses do Guardian terem perdido a paciência com ele) e fez baixar uma cortina de fumaça sobre o assunto. Mas não conseguiu ocultar a contradição entre seus ufanistas programas que dependem da expansão da área agrícola (dos quais a estrela é o do biocombustível) e a preservação da mata. Nem esconder a evidência de que o governo federal é, de longe, o maior latifundiário da região, com 76% das terras da Amazônia Legal, e não tem idéia de como cuidar delas, como denunciou, em nota, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).Desconhece sua vocação panglossiana, (nota: que ou quem se caracteriza por grande otimismo, especialmente em face de severas adversidades) contudo, quem imaginou que isso pudesse abatê-lo. Pois, com a mesma veemência com que açoitou os vendilhões do santuário ecológico devastado, passou a chicotear os alarmistas que se assustaram com o aviso do Inpe. Sem se incomodar com a possibilidade de engolir algum mosquito, quem sabe um transmissor da febre amarela silvestre, comparou: “Você vai ao médico detectar que está com um tumorzinho e, em vez de fazer biópsia e saber como tratar, já sai dizendo que está com câncer.” Como se ele não tivesse passado um mandato inteiro e o primeiro ano do segundo a dar às conclusões do Inpe, até prova em contrário uma instituição científica de sólida reputação, foros de ressonância magnética. E prosseguiu: “É como se você tivesse uma coceira e achasse que é uma doença mais grave.” Ao abandonar o gramado das metáforas futebolísticas e fazer diagnósticos médicos, terá ele confundido prurido com metástase?Como os ingleses do Guardian não lhe tiram votos nem os pecuaristas da Irlanda alteram seu prestígio nas pesquisas eleitorais, no dia seguinte Lula resolveu atacar os europeus que deixaram de comprar carne brasileira alegando problemas sanitários que qualquer patrício está cansado de saber que existem mesmo em nosso rebanho. E, como a autoridade federal é cúmplice na farta produção de pretextos clínicos para o protecionismo da clientela externa, o presidente resolveu bater abaixo da linha da cintura de quem fica do outro lado do balcão, enxotando as boas maneiras e adotando uma atitude temerária para qualquer bom negociante, como sabia Gaudêncio Torquato, o pai: “Eles têm a ‘vaca louca’ e ficam dando palpite aqui.” Dificilmente perderá um voto com isso, mas, ainda assim, terá perdido, além da razão, uma boa ocasião de ficar calado. José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde
sábado, 2 de fevereiro de 2008
Você Sabe Qual É A Origem Da Arroba ?
Na idade média os livros eram escritos pelos copistas à mão. Precursores da taquigrafia, os copistas simplificavam o trabalho substituindo letras, palavras e nomes próprios, por símbolos, sinais e abreviaturas. Não era por economia de esforço nem para o trabalho ser mais rápido (tempo era o que não faltava naquele tempo). O motivo era de ordem econômica: tinta e papel eram valiosíssimos.
Foi assim que surgiu o til (~), para substituir uma letra (um "m" ou um "n") que nasalizava a vogal anterior. Um til é um enezinho sobre a letra, pode olhar.
O nome espanhol Francisco, que também era grafado "Phrancisco", ficou com a abreviatura "Phco." e "Pco". Daí foi fácil Francisco ganhar em espanhol o apelido Paco.
Os santos, ao serem citados pelos copistas, eram identificados por um feito significativo em suas vidas. Assim, o nome de São José aparecia seguido de "Jhesus Christi Pater Putativus", ou seja, o pai putativo (suposto) de Jesus Cristo. Mais tarde os copistas passaram a adotar a abreviatura "JHS PP" e depois "PP". A pronúncia dessas letras em seqüência explica porque José em espanhol tem o apelido de Pepe.
Já para substituir a palavra latina et (e), os copistas criaram um símbolo que é o resultado do entrelaçamento dessas duas letras: &. Esse sinal é popularmente conhecido como "e comercial" e em inglês, tem o nome de ampersand, que vem do and ("e" em inglês) + per se (do latim por si) + and.
Com o mesmo recurso do entrelaçamento de suas letras, os copistas criaram o símbolo @ para substituir a preposição latina ad, que tinha, entre outros, o sentido de "casa de".
Veio a imprensa, foram-se os copistas, mas os símbolos @ e & continuaram a ser usados nos livros de contabilidade. O @ aparecia entre o número de unidades da mercadoria e o preço - por exemplo: o registro contábil "10@£3" significava "10 unidades ao preço de 3 libras cada uma". Nessa época o símbolo @ já ficou conhecido como, em inglês como at (a ou em).
No século XIX, nos portos da Catalunha (nordeste da Espanha), o comércio e a indústria procuravam imitar práticas comerciais e contábeis dos ingleses. Como os espanhóis desconheciam o sentido que os ingleses atribuíam ao símbolo @ (a ou em), acharam que o símbolo seria uma unidade de peso. Para o entendimento contribuíram duas coincidências : 1- a unidade de peso comum para os espanhóis na época era a arroba, cujo "a" inicial lembra a forma do símbolo; 2- os carregamentos desembarcados vinham freqüentemente em fardos de uma arroba. Dessa forma, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registro de "10@£3"assim : "dez arrobas custando 3 libras cada uma". Então o símbolo @ passou a ser usado pelos espanhóis para significar arroba.
Arroba veio do árabe ar-ruba, que significa "a quarta parte": arroba ( 15 kg em números redondos) correspondia a 1/4 de outra medida de origem árabe ( quintar), o quintal ( 58,75 kg ). As máquinas de escrever, na sua forma definitiva, começaram a ser comercializadas em 1874, nos Estados Unidos (Mark Twain foi o primeiro autor a apresentar seus originais datilografados). O teclado tinha o símbolo "@", que sobreviveu nos teclados dos computadores.
Em 1972, ao desenvolver o primeiro programa de correio eletrônico (e-mail), Roy Tomlinson aproveitou o sentido "@" (at), disponível no teclado, e utilizou-o entre o nome do usuário e o nome do provedor. Assim "Fulano@Provedor X" ficou significando "Fulano no provedor X". Em diversos idiomas, o símbolo "@" ficou com o nome de alguma coisa parecida com sua forma, em italiano chiocciola (caracol), em sueco snabel (tromba de elefante), em holandês, apestaart (rabo de macaco); em outros idiomas, tem o nome de um doce em forma circular: shtrudel, em Israel; strudel, na Áustria; pretzel, em vários paises europeus.
Contribuição de Vanderlei D. Ruiz
Fonte desconhecida
Foi assim que surgiu o til (~), para substituir uma letra (um "m" ou um "n") que nasalizava a vogal anterior. Um til é um enezinho sobre a letra, pode olhar.
O nome espanhol Francisco, que também era grafado "Phrancisco", ficou com a abreviatura "Phco." e "Pco". Daí foi fácil Francisco ganhar em espanhol o apelido Paco.
Os santos, ao serem citados pelos copistas, eram identificados por um feito significativo em suas vidas. Assim, o nome de São José aparecia seguido de "Jhesus Christi Pater Putativus", ou seja, o pai putativo (suposto) de Jesus Cristo. Mais tarde os copistas passaram a adotar a abreviatura "JHS PP" e depois "PP". A pronúncia dessas letras em seqüência explica porque José em espanhol tem o apelido de Pepe.
Já para substituir a palavra latina et (e), os copistas criaram um símbolo que é o resultado do entrelaçamento dessas duas letras: &. Esse sinal é popularmente conhecido como "e comercial" e em inglês, tem o nome de ampersand, que vem do and ("e" em inglês) + per se (do latim por si) + and.
Com o mesmo recurso do entrelaçamento de suas letras, os copistas criaram o símbolo @ para substituir a preposição latina ad, que tinha, entre outros, o sentido de "casa de".
Veio a imprensa, foram-se os copistas, mas os símbolos @ e & continuaram a ser usados nos livros de contabilidade. O @ aparecia entre o número de unidades da mercadoria e o preço - por exemplo: o registro contábil "10@£3" significava "10 unidades ao preço de 3 libras cada uma". Nessa época o símbolo @ já ficou conhecido como, em inglês como at (a ou em).
No século XIX, nos portos da Catalunha (nordeste da Espanha), o comércio e a indústria procuravam imitar práticas comerciais e contábeis dos ingleses. Como os espanhóis desconheciam o sentido que os ingleses atribuíam ao símbolo @ (a ou em), acharam que o símbolo seria uma unidade de peso. Para o entendimento contribuíram duas coincidências : 1- a unidade de peso comum para os espanhóis na época era a arroba, cujo "a" inicial lembra a forma do símbolo; 2- os carregamentos desembarcados vinham freqüentemente em fardos de uma arroba. Dessa forma, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registro de "10@£3"assim : "dez arrobas custando 3 libras cada uma". Então o símbolo @ passou a ser usado pelos espanhóis para significar arroba.
Arroba veio do árabe ar-ruba, que significa "a quarta parte": arroba ( 15 kg em números redondos) correspondia a 1/4 de outra medida de origem árabe ( quintar), o quintal ( 58,75 kg ). As máquinas de escrever, na sua forma definitiva, começaram a ser comercializadas em 1874, nos Estados Unidos (Mark Twain foi o primeiro autor a apresentar seus originais datilografados). O teclado tinha o símbolo "@", que sobreviveu nos teclados dos computadores.
Em 1972, ao desenvolver o primeiro programa de correio eletrônico (e-mail), Roy Tomlinson aproveitou o sentido "@" (at), disponível no teclado, e utilizou-o entre o nome do usuário e o nome do provedor. Assim "Fulano@Provedor X" ficou significando "Fulano no provedor X". Em diversos idiomas, o símbolo "@" ficou com o nome de alguma coisa parecida com sua forma, em italiano chiocciola (caracol), em sueco snabel (tromba de elefante), em holandês, apestaart (rabo de macaco); em outros idiomas, tem o nome de um doce em forma circular: shtrudel, em Israel; strudel, na Áustria; pretzel, em vários paises europeus.
Contribuição de Vanderlei D. Ruiz
Fonte desconhecida
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