Gente bonita: quanto mais feia melhor
De Virginia Heffernan
Certa vez eu li que Ava Gardner esticou a pele solta da sua face com ganchos e a ocultou sob uma peruca. Foi a sua cirurgia plástica facial improvisada. Joan Crawford teria escondido as suas acnes com uma camada de um produto de maquiagem usado por funerárias. O couro cabeludo de Marilyn Monroe seria visível para as pessoas próximas a ela, brilhando avermelhado devido ao produto cáustico para clareamento de cabelo usado por ela. Segundo a lenda ela também estaria ficando calva.
As maiores belezas dos Estados Unidos: nos dias de hoje elas não conseguem escapar incólumes de episódios como esses. Não há mais nada no estilo daquelas encantadoras fotos de Gardner na revista "Life" --com a face juvenil, olhos verdes e loura, ela era a perfeição radiante da vida. Hoje em dia jamais observaríamos placidamente tais fotos, encantados como se estivéssemos apreciando um quadro de Vermeer.
Ao contrário, se Ava ainda estivesse por aqui apareceria no idontlikeyouinthatway.com ou no dlisted.com e não olharíamos com deleite a sua face nem o seu cabelo. Em vez disso, procuraríamos os mistérios microscópicos relativos à pele repuxada, cada gancho tracionando horrivelmente a carne. E haveria uma legenda furiosa na foto, como se Gardner tivesse se metido com as nossas vidas, e não nós com a dela: Que diabos há de errado com a face de Ava?!
Assim como ocorre em várias outras instituições norte-americanas do século 20, hoje em dia a beleza de Hollywood só é abordada regularmente como sendo um conto de fadas pelos sonhadores e ingênuos. Espera-se dos leitores dotados de alguma perspicácia que reconheçam a função estratégica desse jogo, mas que reconheçam que tudo não passa de uma mentira. A disponibilidade da cirurgia plástica e o uso generalizado de branqueadores dentais e auto-bronzeadores e, finalmente, a manipulação de fotografias acessível a qualquer vovó para embelezar as fotos tiradas com uma Canon PowerShot digital fizeram, de alguma forma, com que até mesmo a beleza transcendental se tornasse ostensivamente suspeita.
Revistas de celebridades que em encarnações passadas costumavam vender 'fantasias de adorabilidade', atualmente se especializam em desmantelar essas mesmas fantasias. Atuando em conjunto com páginas da Internet ainda mais onipresentes, os tablóides convidam os leitores a primeiramente avaliar as fotos das celebridades em busca de indícios de normalidade ('astros e estrelas: eles são exatamente como nós!') e depois de evidências de monstruosidade ('Nicole Richie: grávida, pesando 39 quilos e empaturrada com 73 mil pílulas!').
Certas celebridades prestam-se especialmente à nova forma de escrutínio de alta resolução. Exibindo perda e ganho de peso, pigmentação instável, gravidez indefinida, dilatação ocular e linguagem corporal errática, figuras como Nicole Richie, Lindsay Lohan e Britney Spears transformaram-se em espécimes favoritos, convidando a análise e, como se fossem pequenas Monas Lisas --recompensando o esforço daqueles que estão dispostos a olhar e olhar e olhar.
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