quarta-feira, 23 de abril de 2008

Disney no Brasil: conheça a dimensão deste negócio mágico no país

Por Guilherme Neto
pauta@mundodomarketing.com.br

Como uma das maiores marcas do mundo, não é surpresa observar a Disney atuando em diversas linhas de negócios. O cinema pode ser a primeira coisa que vem à cabeça ao lembrarmos da empresa, mas outras áreas como o licenciamento de produtos, canais de TV e jogos também são outros pontos fortes da organização. Um bom exemplo é o Disney Channel, que desde o fim do ano passado ocupa a liderança absoluta em audiência na TV paga.
A Walt Disney Company chegou ao Brasil na década de 1950, quando, em parceria com a Editora Abril, iniciava as suas publicações com as histórias em quadrinhos. Com o grande sucesso de venda de gibis como O Pato Donald, até hoje apontado como grande responsável pela ascensão inicial da editora, outros quadrinhos Disney eram publicados e os primeiros produtos licenciados chegavam ao varejo.
Em 1961, a Disney ganhou a primeira representação de produtos de consumo, através de um escritório particular que representava a empresa. A partir de 1995, a Disney abriu seus próprios escritórios na América Latina, o que inclui um no Brasil, em São Paulo. Hoje, ele tem o papel de centralizar e administrar as atividades regionais da organização no país, sempre em sintonia com o escritório argentino, em Buenos Aires, que coordena a operação em toda a América Latina. Os outros escritórios na região são no Chile, México e Venezuela.
O escritório brasileiroO escritório em São Paulo gerencia todas as linhas de negócio no Brasil, como cinema (sob o selo Miravista), DVDs e Blu-ray, internet, mobile, games, canais de TV por assinatura, publicações e a área de produtos de consumo. A importância do mercado brasileiro para a Disney varia dependendo da linha de negócio, "Mas, fazendo uma média, o Brasil é muito importante para a Disney no momento, até mesmo porque é um mercado que vive uma boa situação econômica e tem grande potencial de crescimento", conta Herbert Greco, Diretor de Marketing da Disney Brasil, em entrevista ao Mundo do Marketing.
Por aqui, a parte de produtos licenciados é a que mais chama atenção, agregando brinquedos, vestuário, papelaria, e diversos outros tipos de artigos. Personagens clássicos como Mickey, Pato Donald e Pateta são alguns dos mais licenciados, mas o que mais vende depende do sucesso do momento. Atualmente, o High School Musical é a marca que mais vende produtos, mas, no lançamento de um novo filme no cinema, também há uma forte procura de produtos com o tema.
O interesse do consumidor brasileiro pela Disney também é percebido com o alto número de brasileiros que visitam seus parques todos os anos. O Brasil era o terceiro maior país em número de visitantes nos parques Disney na década de 1990. Entretanto, a então desvalorização do real e os ataques terroristas em Nova York afastaram um pouco os brasileiros, caindo para o quinto lugar. Mas, com o recente cenário econômico brasileiro fortalecido e a valorização do real, este número volta a subir.
Possíveis parques e lojas no Brasil são tratados em sigiloNo ano passado, 332 mil turistas brasileiros passaram por um dos parques Disney, atrás do Reino Unido, Canadá e México, segundo a Travel Industry Association of America. Apesar disso, Herbert Greco não acredita em um potencial parque Disney no Brasil em médio prazo. "A Disney sempre tratou a abertura de um novo parque no maior sigilo. Portanto, mesmo que soubesse, não poderia falar", diz.
A possível abertura de uma loja da Disney no Brasil também parece ser tratada com sigilo. A marca chegou a organizar uma loja temporária na quarta e quinta edição do mega centro de compras Super Casas Bahia, evento temporário da rede varejista que acontece todo fim de ano, em São Paulo. Apesar da experiência, reunindo produtos de consumo com o perfil daquele evento, Herbert afirma que a empresa não tem planos de abrir uma loja fixa.
No trabalho de divulgação de seus produtos, a Disney adota uma mecânica que utiliza suas diversas linhas de negócio. A venda de espaço publicitário em seus canais de televisão, por exemplo, não se limita apenas a alguns segundos. O anúncio, na verdade, faz parte de um pacote oferecido pela empresa em que, através de uma mesma oferta comercial, possa gerar não apenas a venda de anúncios na TV, mas também mídia on-line em seus sites, conteúdos para mobile, games e até oportunidades de licenciamento. Toda essa estrutura de forma sinérgica dentro do negócio da empresa atua de forma a utilizar a força de vendas de seus canais - ESPN, ESPN Brasil, Jetix e Disney Channel - em favor da Walt Disney Company.
O sucesso do Disney ChannelO Disney Channel é o principal entre eles. A empresa comemora a liderança na TV por assinatura, tirando, desde dezembro, o primeiro lugar do Cartoon Network, que ocupou o posto durante anos. A posição de líder na audiência já era realidade em outros países da América Latina, só faltava o Brasil. O canal tem uma programação voltada à crianças e adolescentes e surgiu há oito anos no segmento premium, sendo exclusivo da hoje extinta DirectTV, atual Sky.
Há quatro anos, porém, o Disney Channel tornou-se disponível em outras operadoras e, com a popularidade de séries e filmes como Hannah Montana e High School Musical, houve um significativo aumento na audiência. "Isso vem nos ajudando na penetração das propriedades que lançamos e divulgamos no canal, pois além do canal ser um negócio importante, ele ajuda a repercutir outros negócios.
Divulgação em PDVOutra tática adotada pela Disney Brasil para a divulgação da marca e de seus produtos é promover atrações em ponto-de-venda, através de áreas de entretenimento, como acontece comumente em diversos shopping centers. A empresa realiza suporte para eventos de entretenimento em épocas como volta às aulas ou lançamento de um filme para divulgar os seus produtos.
"É comum nos ligarem sugerindo idéias e perguntando preço. Mas não alugamos personagens. O que fazemos é entrar em contato com shoppings centers oferecendo uma parceria, em que cobramos apenas custo de montagem ou mais algum investimento que venha a ser incluído para divulgação da atração", conta Greco ao site.
Nesse e outros trabalhos de divulgação, a empresa opta por realizar ações de Marketing e publicidade voltadas à família, preservando mensagens alegres e positivas. "Pode até ter humor, mas voltado à alegria, não piadas. Essa é uma dificuldade que temos ao trabalhar com agências novas, pois é comum utilizarem o humor a qualquer preço", relata o Diretor de Marketing.
O investimento em Blu-RayOs filmes Disney também são outro destaque, com os sucessos de bilheteria e vendas de DVDs. Em dezembro do ano passado, a Disney começou a lançar algumas de suas produções em formato Blu-Ray, que consolidou-se como o sucessor do DVD. Em dezembro, chegaram a caráter experimental títulos como Piratas do Caribe, Carros e outros sob o selo Buena Vista, como “Todo Mundo em Pânico 4” e “A Outra Face”.
O foco está nos usuários ávidos por novas tecnologias, visto que o preço de um aparelho de Blu-Ray, assim como do próprio disco, ainda é alto para os padrões brasileiros. "Hoje é fácil falar, mas sempre acreditamos que o diferencial técnico do Blu-ray em relação ao HD-DVD nos dava uma vantagem competitiva muito grande. O retorno financeiro ainda é muito baixo, sabíamos que seria assim", afirma o Diretor de Marketing, que falou ainda que futuramente estuda reduzir o preço para facilitar o acesso ao produto, que hoje chega a custa mais de R$ 100,00.
Atualmente, a empresa começa a produzir o primeiro filme brasileiro com a marca Disney. Apesar de atuar há alguns anos no cinema brasileiro sob o selo Miravista, a marca vez investe pela primeira o seu nome em um longa metragem nacional. Trata-se da versão brasileira do sucesso High School Musical. Por enquanto, o projeto está em fase de seleção de atores/cantores, que pode ser acompanhada através do programa "High School Musical: A Seleção", exibido no SBT e Disney Channel.
Outros países da América Latina também estão produzindo suas versões da franquia. Outra novidade que deve surgir no Brasil é um novo espetáculo da Disney. Após uma passagem por Rio e São Paulo no ano passado, depois de uma ausência de vários anos no país, o "Disney On Ice" deve novamente entrar em turnê em todo o Brasil no segundo semestre de 2008 e no primeiro de 2009.
A Disney reuniu todas essas linhas de negócio em um evento exclusivo, realizado anualmente há dois anos. O Expo Disney é uma feira aberta a executivos que desejam fazer negócios com a Disney no Brasil, onde a companhia expõe diversos novos produtos presentes no mercado e outros que ainda virão, como os futuros lançamentos no cinema. Segundo Herbert Greco, a próxima edição está prevista para a primeira semana de agosto. "Chamamos parceiros para fazer negócios em todas as linhas, não apenas produtos de consumo. O nosso objetivo é passar a dimensão da marca Disney ao mercado, mostrando como ela é presente, importante e impactante e como podemos gerar negócios aos nossos parceiros", explica ele.

Mundo do Marketing: Publicado em 22/4/2008

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Fundação Casa – Um olhar sobre outro prisma

Minha primeira visita à Fundação Casa, aconteceu no dia 7.04.2008 às 9h.
Estava ansiosa e com receio de não encontrar com facilidade, saí cedo de casa.
Chegando, aguardei cerca de 10’ na porta, entre apresentação de documento e liberação da entrada.
Lá fora, olhando ao redor, pude notar sua posição estratégica. No alto em um terreno isolado, se encontra a Fundação.
Cercas, arames farpados, muros de contenção, uma cena aterradora. Isso porque eu estava do lado de fora.
Minha entrada foi autorizada. Falaria com Rose Meire Mendes de Almeida, e Francine Cavallini Landim, diretora da instituição.
Sentei-me para aguardar enquanto era cordialmente cumprimentada por todos os funcionários, sem exceção. Isso me impressionou muito, pois acreditava que iria encontrar um clima tenso e sem grandes mirongas, ainda mais para visitantes.
Ali fiquei até que a Rose veio me recepcionar.
Ficamos conversando por cerca de 1h30. A mística sobre a construção tem chamado a atenção da imprensa, principalmente por conta dos problemas que vêm ocorrendo, muitos deles, alardeados em demasia pela população residente das imediações.
Informação é sempre tudo de mais valioso que podemos portar. Ali, sem meus dois celulares (retidos pela segurança na porta), pude aprender, e muito sobre a Fundação e, confesso, fiquei muito impressionada.
Copiei o texto abaixo do site da Fundação, pois não saberia explicar com tamanha riqueza de detalhes, o trabalho de cada profissional envolvido lá:

“Com capacidade para até 56 adolescentes, a unidade da CASA de internação e internação provisória construída na cidade e conta com um programa inovador trazido pela Pastoral a São Paulo.
Trata-se da Pedagogia Contextualizada, inspirada num modelo de atendimento socioeducativo colombiano e já aplicada com sucesso pela Fundação nos municípios de Sorocaba e Franca.
Método é dividido em fases
A Pedagogia Contextualizada está dividida em dois eixos. No âmbito externo, ela trabalha com a perspectiva de integrar os adolescentes internos à sociedade, por meio do uso de serviços públicos e convênios com parceiros. Em Sorocaba, por exemplo, os adolescentes fazem cursos de capacitação oferecidos pela universidade da cidade, a Uniso.
No âmbito interno, o modelo visa levar o adolescente à reflexão, por meio de um programa que conta com cinco fases. Os jovens só passam de uma fase à outra se tiverem assimilado as reflexões propostas. "O adolescente passa a ter expectativa e a sentir sua evolução”, diz Maria Eli. “Ele consegue visualizar a própria progressão.”
As primeiras fases são a Pré-acolhida e a Acolhida. Nelas, os educadores explicam aos adolescentes recém-chegados o modelo pedagógico e as metas que cada um terá que atingir no período de internação. Depois o jovem passa para a terceira etapa, a confrontação. Nesta fase, os internos refletem sobre os atos que praticaram.
Na quarta parte do programa, chamada de Projeto de Vida, o adolescente reflete, com o auxílio dos educadores, sobre o que farão na vida futura. Na última etapa, chamada de República (ou Projeção Pós-Institucional), os adolescentes começam a fazer atividades externas – sempre com autorização judicial. É a etapa em que o jovem está mais preparado para voltar a conviver em sociedade. http://www.casa.sp.gov.br/site/noticias.php?cod=1013

Quero com esse texto informar. Quero dividir que o trabalho é algo acima do humano e humanitário. Que poder oferecer uma segunda chance e recuperar esse menor é uma glória. Admira-me muito, os tão afamados cristãos, atirarem tantas pedras sem sequer conhecer o trabalho e o propósito da Fundação.
Gostaria que cada cidadão Jundiaiense se dispusesse a ler, conhecer, ou se informar sobre as propostas, sobre o futuro que queremos e que entendessem que ninguém está livre de ter um filho (a) vivendo nesta situação e vai querer oferecer para ele (ela), uma segunda chance, assim como oferecemos cada vez que erram ao longo da vida. Jamais deixará de ser filho, independente do que façam.
Não existe um erro no mundo que seja imperdoável se o praticante assim se arrepender. Se Deus instituiu a confissão para os católicos é porque Ele acredita em sua remissão.

Gostaria que ambas, Rose e Francine, conseguissem transmitir a toda população, a emoção que me transmitiram. O afeto e atenção que desprendem em seu trabalho. A satisfação de poder contribuir com a construção de um mundo e por saber fazer parte da solução e não do problema.

Não estamos falando de um parque de diversões ou um jardim de infância. Não sejamos hipócritas ao acreditar que podemos tratar estes jovens de forma branda, mas em momento algum usar violência ou força. Se o objetivo é reintegrá-los no futuro, é conhecer o que os levou a esse fim. É enxergar mais que os galhos da árvore e explorar suas raízes, fortificando-as para que continue a crescer e não envergue mais seu tronco.

Se não, vejamos:
Folha de S.Paulo 23/09/2001 - 10h21
Ex-interno da Febem agora é doutor pela USP
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u37487.shtml

Por Assessoria de Imprensa, em 28/12/05 12:04
Ex-interno é graduado em Jornalismo, após desenvolver pesquisa sobre a influência da TV na Febem
http://www.febem.sp.gov.br/site/noticias.php?cod=27

Cleonder Evangelista é ex-interno da Febem e autor do livro Uma Luz no Fim do Túnel
http://www.aprendebrasil.com.br/entrevistas/entrevista0120.asp

Ex-interno da Febem nocauteia o destino e brilha em luxuoso hotel paulistano
http://www.terra.com.br/istoe/1856/comportamento/1856_as_marcas_do_pantera.htm

Fábula moderna (essa eu transcrevi na íntegra)
http://veja.abril.com.br/111000/p_070.html

"Você, moleque, com certeza vai ser bandido!" Essa foi a frase que o mineiro Roberto Carlos Ramos mais ouviu na infância. Negro, pobre, abandonado, analfabeto até os 13 anos e um dos campeões de fuga da Febem de Belo Horizonte, tudo levava a crer que o vaticínio se concretizaria. Sua ficha na instituição o definia com uma única palavra: irrecuperável. No entanto, o acaso encarregou-se de inverter os ponteiros da lógica rasteira. Roberto Carlos, hoje com 34 anos, é um exemplo de sucesso na vida profissional e pessoal. Não, nada a ver com montanhas de dinheiro e carrões de luxo. Pedagogo com mestrado na Universidade Estadual de Campinas, ele é um dos mais requisitados palestrantes do país. Pós-graduado em literatura infantil, Roberto Carlos também é um contador de histórias profissional, daqueles capazes de prender a atenção de uma criança hiperativa por horas a fio. Para completar, está prestes a esculpir no bloco duro e frio da realidade seu maior sonho. Foi convidado pelo estilista Carlos Miéle, dono da grife de roupas M. Officer, para coordenar um projeto de educação de crianças carentes em várias capitais do Brasil.
Caçula de uma prole de dez filhos, Roberto Carlos foi enviado à Febem com 6 anos. Ao longo dos sete que passou lá, fugiu exatas 132 vezes. Aos 9 anos, conhecido como "Beto Pivete", já cometia pequenos furtos. Cheirava cola de sapateiro e fumava maconha diariamente. Foi na sala de readmissão da Febem que o acaso o colheu, sob a figura da pedagoga francesa Marguerit Duvas. De férias no Brasil, ela conheceu Roberto Carlos enquanto visitava a instituição. Intrigada e encantada com o garoto vivaz e indomável, ela transformou seu período de descanso numa longa estada e conseguiu a sua guarda. Marguerit o ensinou a falar francês (língua na qual seria alfabetizado por professores particulares) e, depois de três anos, levou-o para Marselha. Na cidade ensolarada do sul da França, Roberto concluiu o colegial e viveu até os 19 anos.
De volta ao Brasil, fez pedagogia e estagiou na mesma Febem onde permaneceu durante a infância. Foi lá que conheceu Alexandre, menor abandonado que acolheu em seu minúsculo apartamento. Em seguida, vieram Moisés, Kleber, Fábio... Atualmente, ele mora com doze "filhos", cujas idades variam de 10 a 25 anos, num casarão de quatro andares em Ibirité, na região metropolitana de Belo Horizonte. Todos estudam e os mais velhos também trabalham. Roberto, por sua vez, tira o sustento de sua facúndia. Desfia seu repertório de histórias, composto basicamente de lendas do folclore brasileiro, em festas, escolas e programas de rádio e de TV – as narrativas renderam até um CD e um vídeo. Na outra parte do tempo, roda o Brasil proferindo palestras em empresas do porte da Petrobras, Skol e Vale do Rio Doce. Roberto Carlos usa sua trajetória de vida para falar de motivação de pessoal e estratégias de produção.
Em seu lar incomum, a primeira regra é ter planos – a curto, médio e longo prazo. "Não importa se é comprar uma bicicleta ou fazer faculdade", explica ele. Seu plano de curto prazo? Casar com a enfermeira Marly, dando um final feliz a um namoro que já dura seis anos. A fórmula de Roberto Carlos para guiar seus meninos pela boa estrada é de uma simplicidade franciscana: carinho e educação. Esse binômio está na base das escolas que coordenará para a Fundação M. Officer. Nelas, os menores carentes serão levados a desenvolver suas principais aptidões, para que possam integrar-se como cidadãos plenos numa sociedade que tende a rejeitá-los. "Sou a prova de que não existe criança irrecuperável", diz ele. E acrescenta: "No mundo há os que choram e os que vendem lenços. Hoje, estou entre os que vendem lenços".

sábado, 5 de abril de 2008

Carta de petroleiro da P-18 a Pedro Bial do BBB da Globo

Prezado SenhorPedro BialDigníssimo Jornalista, apresentador da Rede Globo de Televisão.

Confesso Sr.Bial que não sou espectador do programa o qual o senhorapresenta. Talvez para felicidade da minha cultura e para infelicidadedoíndice de audiência, ao qual seu programa está atrelado. Mas, tive durante um dia desses, num dos raros casos fortuitos que o destino apresenta, a oportunidade de, por alguns minutos, apreciar o tão falado Big BrotherBrasil, o BBB.
Para minha surpresa, durante uma ou duas vezes o senhor, ao chamar os participantes para aparecerem no vídeo o fez da seguinte maneira:- Vamos agora falar com nossos heróis! De imediato tive uma surpresa que me fez trepidar na cadeira. Heróis????
O senhor chama aqueles que passam alguns dias aboletados numa confortável casa, participando de festas, alguns participando até de sessões de sexo sob os ededrons, falando palavras chulas e no fim podendo ganhar um milhão de reais, de heróis?P ois bem Sr. Pedro Bial, eu trabalho numa Plataforma Marítima que se localiza a aproximadamente 180 km da costa brasileira e contribuimos, mesmo modestamente, para que o nosso País alcançasse a auto-suficiência em Petróleo e continuamos lutando, todos nós, para superar esse patamar. Neste último dia 26 de Fevereiro presenciamos um acidente com um dos Helicópteros que faz nosso transporte entre a cidade de Campos e a Plataforma.
As imagens que ficaram em nossa mente Sr. Bial, irão nos marcar para o resto das nossas vidas. Os seus "heróis" Sr Bial, são meros coadjuvantes de filmes de segunda categoria comparados com os atos de heroísmos que presenciamos naquele momento. Certamente o Senhor como Jornalista que é, deve estar a par de todo oacontecido. Mas sei que os detalhes o Sr. desconhece. Pois bem, perdemos alguns colegas. Colegas esses, Sr Bial, que estavam indo para casa após haver trabalhado 15 dias em regime deconfinamento. Não o confinamento a que estão sujeitos os seus "heróis", pois eles têm toda uma parafernália de conforto, segurança e bem estar, que difere um pouco da nossa realidade. Durante esse período de quinze dias essescolegas falaram com a família apenas por telefone. Não tiveram oportunidade de abraçar seus filhos, de beijar suas esposas, de rever seus amigos e parentes... Logo após decolar desta Plataforma com destino a suas casas o Helicóptero caiu no mar ceifando suas vidas de modo trágico e desesperador. E seus "heróis" Sr Bial, a que tipo de risco eles estão expostos? Talvez aos paredões das terças-feiras, a rejeição do público, a não ganhar o prêmio milionário ou a não virar a celebridade da próxima novela das oito.Os heróis daqui Sr Bial foram aqueles que desceram num bote de resgate, mesmo com o mar apresentando um suel desafiador. Nossos heróis Sr. Bial desceram numa baleeira, nossos heróis foram os mergulhadores, que depronto se colocaram à disposição para ajudar, mesmo que isso colocasse suas vidas em risco. Nossos heróis Sr. Bial, não concorrem ao Prêmio de um Milhão de reais, não aparecem na mídia, nem mesmo os nomes deles são divulgados. Mas são heróis na verdadeira acepção da palavra. São de carne e osso e não meros personagens manipulados pelos índices de audiência. Nossos heróis convivem aqui no dia-a-dia, sem câmeras, sem aparecerem no Faustão ou no Jô Soares. Heróis, Sr Bial são todos aqueles que diariamente, saem das suas casas, nas diversas cidades brasileiras, chegam à Macaé ou Campos e embarcam com destino às Plataformas Marítimas, sem saber se regressarão às suas casas, se ainda verão seus familiares, ou voltarão ilesos, pois tudo pode acontecer: numa curva da estrada, num acidente de Helicóptero, no vôo comercial de regresso a sua cidade de origem....Não tenho autoridade suficiente para convidá-lo a conhecer nosso local de trabalho e conseqüentemente esses nossos heróis, mas posso lhe garantir Senhor Bial, que caso o Sr estivesse presente nesta plataforma durante aquele fatídico acidente seu conceito de herói certamente seria outro.
Em memória dos colegas: Durval Barros Adinoelson Gomes Guaraci Soares e de tantos outros que nao puderam voltar mais.
Colaboração: Solange Bueno