segunda-feira, 7 de abril de 2008

Fundação Casa – Um olhar sobre outro prisma

Minha primeira visita à Fundação Casa, aconteceu no dia 7.04.2008 às 9h.
Estava ansiosa e com receio de não encontrar com facilidade, saí cedo de casa.
Chegando, aguardei cerca de 10’ na porta, entre apresentação de documento e liberação da entrada.
Lá fora, olhando ao redor, pude notar sua posição estratégica. No alto em um terreno isolado, se encontra a Fundação.
Cercas, arames farpados, muros de contenção, uma cena aterradora. Isso porque eu estava do lado de fora.
Minha entrada foi autorizada. Falaria com Rose Meire Mendes de Almeida, e Francine Cavallini Landim, diretora da instituição.
Sentei-me para aguardar enquanto era cordialmente cumprimentada por todos os funcionários, sem exceção. Isso me impressionou muito, pois acreditava que iria encontrar um clima tenso e sem grandes mirongas, ainda mais para visitantes.
Ali fiquei até que a Rose veio me recepcionar.
Ficamos conversando por cerca de 1h30. A mística sobre a construção tem chamado a atenção da imprensa, principalmente por conta dos problemas que vêm ocorrendo, muitos deles, alardeados em demasia pela população residente das imediações.
Informação é sempre tudo de mais valioso que podemos portar. Ali, sem meus dois celulares (retidos pela segurança na porta), pude aprender, e muito sobre a Fundação e, confesso, fiquei muito impressionada.
Copiei o texto abaixo do site da Fundação, pois não saberia explicar com tamanha riqueza de detalhes, o trabalho de cada profissional envolvido lá:

“Com capacidade para até 56 adolescentes, a unidade da CASA de internação e internação provisória construída na cidade e conta com um programa inovador trazido pela Pastoral a São Paulo.
Trata-se da Pedagogia Contextualizada, inspirada num modelo de atendimento socioeducativo colombiano e já aplicada com sucesso pela Fundação nos municípios de Sorocaba e Franca.
Método é dividido em fases
A Pedagogia Contextualizada está dividida em dois eixos. No âmbito externo, ela trabalha com a perspectiva de integrar os adolescentes internos à sociedade, por meio do uso de serviços públicos e convênios com parceiros. Em Sorocaba, por exemplo, os adolescentes fazem cursos de capacitação oferecidos pela universidade da cidade, a Uniso.
No âmbito interno, o modelo visa levar o adolescente à reflexão, por meio de um programa que conta com cinco fases. Os jovens só passam de uma fase à outra se tiverem assimilado as reflexões propostas. "O adolescente passa a ter expectativa e a sentir sua evolução”, diz Maria Eli. “Ele consegue visualizar a própria progressão.”
As primeiras fases são a Pré-acolhida e a Acolhida. Nelas, os educadores explicam aos adolescentes recém-chegados o modelo pedagógico e as metas que cada um terá que atingir no período de internação. Depois o jovem passa para a terceira etapa, a confrontação. Nesta fase, os internos refletem sobre os atos que praticaram.
Na quarta parte do programa, chamada de Projeto de Vida, o adolescente reflete, com o auxílio dos educadores, sobre o que farão na vida futura. Na última etapa, chamada de República (ou Projeção Pós-Institucional), os adolescentes começam a fazer atividades externas – sempre com autorização judicial. É a etapa em que o jovem está mais preparado para voltar a conviver em sociedade. http://www.casa.sp.gov.br/site/noticias.php?cod=1013

Quero com esse texto informar. Quero dividir que o trabalho é algo acima do humano e humanitário. Que poder oferecer uma segunda chance e recuperar esse menor é uma glória. Admira-me muito, os tão afamados cristãos, atirarem tantas pedras sem sequer conhecer o trabalho e o propósito da Fundação.
Gostaria que cada cidadão Jundiaiense se dispusesse a ler, conhecer, ou se informar sobre as propostas, sobre o futuro que queremos e que entendessem que ninguém está livre de ter um filho (a) vivendo nesta situação e vai querer oferecer para ele (ela), uma segunda chance, assim como oferecemos cada vez que erram ao longo da vida. Jamais deixará de ser filho, independente do que façam.
Não existe um erro no mundo que seja imperdoável se o praticante assim se arrepender. Se Deus instituiu a confissão para os católicos é porque Ele acredita em sua remissão.

Gostaria que ambas, Rose e Francine, conseguissem transmitir a toda população, a emoção que me transmitiram. O afeto e atenção que desprendem em seu trabalho. A satisfação de poder contribuir com a construção de um mundo e por saber fazer parte da solução e não do problema.

Não estamos falando de um parque de diversões ou um jardim de infância. Não sejamos hipócritas ao acreditar que podemos tratar estes jovens de forma branda, mas em momento algum usar violência ou força. Se o objetivo é reintegrá-los no futuro, é conhecer o que os levou a esse fim. É enxergar mais que os galhos da árvore e explorar suas raízes, fortificando-as para que continue a crescer e não envergue mais seu tronco.

Se não, vejamos:
Folha de S.Paulo 23/09/2001 - 10h21
Ex-interno da Febem agora é doutor pela USP
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u37487.shtml

Por Assessoria de Imprensa, em 28/12/05 12:04
Ex-interno é graduado em Jornalismo, após desenvolver pesquisa sobre a influência da TV na Febem
http://www.febem.sp.gov.br/site/noticias.php?cod=27

Cleonder Evangelista é ex-interno da Febem e autor do livro Uma Luz no Fim do Túnel
http://www.aprendebrasil.com.br/entrevistas/entrevista0120.asp

Ex-interno da Febem nocauteia o destino e brilha em luxuoso hotel paulistano
http://www.terra.com.br/istoe/1856/comportamento/1856_as_marcas_do_pantera.htm

Fábula moderna (essa eu transcrevi na íntegra)
http://veja.abril.com.br/111000/p_070.html

"Você, moleque, com certeza vai ser bandido!" Essa foi a frase que o mineiro Roberto Carlos Ramos mais ouviu na infância. Negro, pobre, abandonado, analfabeto até os 13 anos e um dos campeões de fuga da Febem de Belo Horizonte, tudo levava a crer que o vaticínio se concretizaria. Sua ficha na instituição o definia com uma única palavra: irrecuperável. No entanto, o acaso encarregou-se de inverter os ponteiros da lógica rasteira. Roberto Carlos, hoje com 34 anos, é um exemplo de sucesso na vida profissional e pessoal. Não, nada a ver com montanhas de dinheiro e carrões de luxo. Pedagogo com mestrado na Universidade Estadual de Campinas, ele é um dos mais requisitados palestrantes do país. Pós-graduado em literatura infantil, Roberto Carlos também é um contador de histórias profissional, daqueles capazes de prender a atenção de uma criança hiperativa por horas a fio. Para completar, está prestes a esculpir no bloco duro e frio da realidade seu maior sonho. Foi convidado pelo estilista Carlos Miéle, dono da grife de roupas M. Officer, para coordenar um projeto de educação de crianças carentes em várias capitais do Brasil.
Caçula de uma prole de dez filhos, Roberto Carlos foi enviado à Febem com 6 anos. Ao longo dos sete que passou lá, fugiu exatas 132 vezes. Aos 9 anos, conhecido como "Beto Pivete", já cometia pequenos furtos. Cheirava cola de sapateiro e fumava maconha diariamente. Foi na sala de readmissão da Febem que o acaso o colheu, sob a figura da pedagoga francesa Marguerit Duvas. De férias no Brasil, ela conheceu Roberto Carlos enquanto visitava a instituição. Intrigada e encantada com o garoto vivaz e indomável, ela transformou seu período de descanso numa longa estada e conseguiu a sua guarda. Marguerit o ensinou a falar francês (língua na qual seria alfabetizado por professores particulares) e, depois de três anos, levou-o para Marselha. Na cidade ensolarada do sul da França, Roberto concluiu o colegial e viveu até os 19 anos.
De volta ao Brasil, fez pedagogia e estagiou na mesma Febem onde permaneceu durante a infância. Foi lá que conheceu Alexandre, menor abandonado que acolheu em seu minúsculo apartamento. Em seguida, vieram Moisés, Kleber, Fábio... Atualmente, ele mora com doze "filhos", cujas idades variam de 10 a 25 anos, num casarão de quatro andares em Ibirité, na região metropolitana de Belo Horizonte. Todos estudam e os mais velhos também trabalham. Roberto, por sua vez, tira o sustento de sua facúndia. Desfia seu repertório de histórias, composto basicamente de lendas do folclore brasileiro, em festas, escolas e programas de rádio e de TV – as narrativas renderam até um CD e um vídeo. Na outra parte do tempo, roda o Brasil proferindo palestras em empresas do porte da Petrobras, Skol e Vale do Rio Doce. Roberto Carlos usa sua trajetória de vida para falar de motivação de pessoal e estratégias de produção.
Em seu lar incomum, a primeira regra é ter planos – a curto, médio e longo prazo. "Não importa se é comprar uma bicicleta ou fazer faculdade", explica ele. Seu plano de curto prazo? Casar com a enfermeira Marly, dando um final feliz a um namoro que já dura seis anos. A fórmula de Roberto Carlos para guiar seus meninos pela boa estrada é de uma simplicidade franciscana: carinho e educação. Esse binômio está na base das escolas que coordenará para a Fundação M. Officer. Nelas, os menores carentes serão levados a desenvolver suas principais aptidões, para que possam integrar-se como cidadãos plenos numa sociedade que tende a rejeitá-los. "Sou a prova de que não existe criança irrecuperável", diz ele. E acrescenta: "No mundo há os que choram e os que vendem lenços. Hoje, estou entre os que vendem lenços".

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