segunda-feira, 18 de junho de 2012

Marketing direto ganha projeto de lei


Deputado Milton Monti (PR-SP) transformou as conclusões do V Congresso ligadas ao setor no PL 4060/12, protocolado na Câmara dos Deputados na quarta-feira 13


O deputado Milton Monti (PR-SP), presidente da Frente Parlamentar da Indústria da Comunicação, protocolou na quarta-feira 14 o Projeto de Lei 4060/12. O objetivoé aprovar uma legislação mais generalista e conceitual sobre o mercado de marketing direto no País. A movimentação é consequência da participação de Monti, como presidente da Comissão “Comunicação one-to-one: personalização x privacidade”, durante o V Congresso da Indústria da Comunicação (leia mais sobre o painel aqui). 

Pelo PL, fica determinado que os parâmetros éticos que regulam o tratamento de dados pessoais dos consumidores podem ser definidos por conselhos de autorregulamentação instituídos pelas entidades representativas deste segmento – que tem na Associação das Empresas de Marketing Direto (Abemd) sua principal figura. Com a proposta, o deputado pavimenta o caminho que a associação vem abrindo há alguns anos rumo a uma atuação das agências do setor pautada pela autorregulação (leia mais aqui). 

"Achamos que deve, sim, existir uma regulamentação sobre essa questão", comenta Efraim Kapulski, presidente da Abemd. “Só achamos que o Estado deve participar de uma maneira conceitual da regulamentação.” Para ele, o controle do mercado deve ser misto: uma lei genérica, aprovada no parlamento, que se soma a uma autorregulamentação técnica mais forte. 

Diálogo e conflito
A proposta respaldada pela Abemd está em desacordo com o ponto de vista do governo federal. O Ministério da Justiça (MJ) tenta emplacar um projeto de lei – atualmente ainda em fase de consulta pública – que limita a atuação das empresas como forma de proteger o consumidor. 

O modelo adotado pelo MJ segue o exemplo do que se faz na Europa, onde o Estado acaba atuando como um tutor do consumidor. Caso se torne um PL, a proposta irá defender a criação de um órgão estatal, nos moldes da Anatel, que gerencie e tutele os dados pessoais dos consumidores brasileiros. "Acho que é preciso ter um marco regulatório sobre a privacidade e o sigilo dos cidadãos, mas não se pode inibir a liberdade de comunicação empresarial", concatena Monti. No entendimento da Abemd – compartilhado pelo deputado – a liberdade de expressão comercial deve ser respeitada na mesma medida que os direitos individuais do consumidor. Daí a moção de Monti com o PL 4060/12. 

Pela expectativa do deputado, o projeto deve passar pela apreciação das comissões de Ciência, Tecnologia e Comunicação e de Defesa do Consumidor, além da Comissão de Constituição de Justiça (embora a mesa diretora da Câmara ainda não tenha definido a distribuição oficialmente). Em paralelo à tramitação do PL, a Abemd dá prioridade máxima à implantação das primeiras regras para estabelecer, o quanto antes, um conselho de autorregulamentação do setor.
Fonte: meioemensagem.com.br

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A internet e os filtros-bolha: não somos tão livres assim



Personalização extrema do conteúdo online leva à formação de filtros que impedem os usuários de ter contato espontâneo com informações classificadas como menos relevantes pelos algoritmos.
Por Eber Freitas


O modelo de comunicação em rede, onde os usuários podem se conectar uns aos outros em qualquer canto do planeta, certamente provocou um profundo impacto na política, na economia, na cultura e nos negócios. Conceitos como Ciberdemocracia, wiki, Creative Commons e outros só existem porque a nossa comunicação não é mais mediada apenas por grupos editoriais por trás dos jornais e programas de TV, mas sim por servidores, operadoras de telefonia e motores de busca. A comunicação ficou mais horizontal, interativa, abrangente, inclusiva e participativa.
A evolução das tecnologias mediadoras - bem como dos interesses corporativos por trás da galáxia internet - estão enviesando essa pretensa liberdade sem que, muitas vezes, ninguém perceba. As operadoras podem copiar seus dados de navegação para fins publicitários na surdina, por exemplo - vide o caso da parceria entre a Oi e a Phorm. Outras vezes, somos nós quem concedemos essa liberdade - quando um aplicativo do Facebook solicita muitas permissões, digamos, e não nos preocupamos em revogar ou questionar.
Eli Parisier, jovem CEO de uma empresa de tecnologia, aponta outra vereda pela qual a Web está trilhando. E tem a ver com moderação espontânea e algorítmica de conteúdo nos mecanismos de busca e redes sociais. Quanto mais a Grande Teia se torna semântica, quanto mais ela busca evoluir no sentido de identificar o comportamento do usuário e levar conteúdo classificado pelas equações como relevantes, mais nós nos isolamos em uma bolha de interesses. E isso nos atinge de uma maneira imperceptível e entorpecente, um lacre informacional manobrado por algoritmos que quantificam e qualificam a vida online do usuário.
Há mais de uma década, o sociólogo Manuel Castells identificou esse tipo de comportamento ao relatar que existe uma tensão, uma dualidade entre a identidade do usuário e a Rede.
Em uma palestra no TED (confira o vídeo abaixo), Parisier aponta como esse fenômeno está se manifestando de forma imperceptível, porém bastante incisiva. "Aconteceu uma mudança na forma como a comunicação está fluindo online. Ela é imperceptível. E se não tomarmos cuidado, isso poderá vir a ser um grande problema", diz.
Se você não tem tempo ou paciência de assistir os 10 minutos de vídeo, eu explico: só aparecem na timeline do Facebook as postagens de perfis com os quais o usuário tem maior interatividade - seja através de comentários, curtidas, compartilhadas ou cliques. Mas quem decide isso não é o usuário. Da mesma maneira se dá a classificação de relevância no motor de busca do Google. O termo "Egito" para um determinado usuário pode redirecioná-lo a resultados genéricos, enquanto para outro aparece toda a cobertura sobre os protestos e a queda de Hosni Mubarak. Segundo Parisier, existem até 57 sinais que o Google observa sobre o usuário antes de determinar o que é interessante ou não (conte-me mais sobre o Mac que você está utilizando, ou sobre esses sites que você visitou semana passada). E aqueles filmes sugeridos na Netflix não são aleatórios, mas baseados na sua classificação de outros títulos e gêneros.
"Não é apenas o Google ou o Facebook. É algo que está varrendo a internet. Há uma série de empresas que estão fazendo esse tipo de personalização [...] E isto nos leva muito rapidamente para um mundo no qual a internet nos mostra aquilo que ela pensa que queremos ver, mas não necessariamente o que precisamos ver"
O conjunto desses filtros de personalização forma o filtro-bolha, segundo Parisier, o seu "universo pessoal" de informação.
De certa forma isso é bom. Já li e ouvi várias críticas ao imenso universo de informações relacionadas a apenas um termo, e como isso acabava "desinformando" o usuário - ninguém vai verificar cada um dos 100 mil resultados da busca no Google, por isso os engenheiros trabalham para colocar na primeira página os resultados mais interessantes para nós. Como empresa, os caras atuam para atender as necessidades do usuário, tomando a liberdade de classificar o que é mais relevante e, com isso, gerar lucro. O Facebook, mais do que nunca, precisa provar para os investidores que é uma plataforma lucrativa e, com isso, a rede vai definir quais são os posts prioritários na nossa timeline com base em quem paga. A linha editorial agora é exercida por algoritmos, não mais por editores de carne e osso.
Parisier defende que essas empresas tenham uma postura mais cívica em relação às informações para evitar a formação de bolhas viciosas em torno do umbigo dos usuários, impedindo que eles tenham acesso a outras informações, a outros filmes, a outras notícias que não fazem parte do seu escopo de relevância. Baseado em como agem os gigantes da comunicação midiática há décadas, eu não seria muito otimista em relação ao cumprimento desse dever cívico. As empresas de internet estão assumindo o bastão da velha mídia, e não acredito que serão mais éticos do que o grupo de Rupert Murdoch.


O que eu defendo é que os usuários sejam mais protagonistas em relação à sua própria vida online e saibam utilizar a tecnologia sem se tornar dependente das classificações de relevância impostas por essas empresas. Existem dezenas de comandos na programação do mecanismo de buscas do próprio Google que, se forem utilizados corretamente, podem levantar exatamente a informação que o usuário realmente precisa. Quer informações? Vá atrás por diversos meios, visite bibliotecas físicas, consulte jornais impressos e compare com os resultados que você obteve - não espere que as empresas façam isso por você, elas não têm essa obrigação.
Além disso, mais do que nunca as pessoas precisam conversar, trocar oralmente experiências e informações. Esse ainda é o meio mais eficaz para você conhecer novas bandas, novos escritores preferidos, novos filmes. Se você já leu tudo de Stephenie Meyer, talvez seja a hora de conhecer algo mais Douglas Adams ou Charles Dickens. Depois de assistir uma maratona das 10 temporadas de Friends, que mal há em conferir Firefly? Não deixe que a internet viva a sua liberdade.

Fonte: administradores.com.br