terça-feira, 22 de junho de 2010

Grampo contra herdeira da L'Oréal atinge o governo Sarkozy, na França

Antonio Jiménez Barca
Em Paris (França)

Durante quase um ano, de maio de 2009 a abril de 2010, um dos mordomos de Lilliane Bettencourt, a mulher mais rica da França, serviu o chá e tirou a mesa com um pequeno gravador escondido no forro do paletó e registrou muitas horas de conversas privadas. Não são quaisquer conversas, e agora ameaçam desestabilizar o governo de Nicolas Sarkozy, dadas as suculentas revelações que contêm: a primeira, que Florence Woerth, a mulher do ministro do Trabalho, Éric Woerth, trabalhava como assessora econômica da milionária, da qual também se soube - graças ao mordomo gravador - que escondia na Suíça várias contas secretas e que possuía nada menos que uma ilha nas Seychelles sem declarar. A mulher de Woerth já se demitiu, mas dá a impressão de que a novela apenas começou, diante da quantidade de gravações acumuladas.

Lilliane Bettencourt, de 87 anos, única herdeira do criador e fundador do império L'Oréal, desfruta de uma fortuna de 16,9 bilhões de euros. Há mais de um ano e meio, esta mulher discreta está no olho do furacão porque sua filha pediu que seja declarada incapaz de administrar sua inestimável fortuna. A causa são os presentes de mais de 1 bilhão de euros em dinheiro, obras de arte, bens e seguros de vida, entre outros, que a riquíssima anciã fez nos últimos anos para um conhecido dândi, fotógrafo profissional, belo quando jovem, escritor de renome, chamado Jean-Marie Bannier, de 64 anos, famoso em sua época por levar Dalí na garupa de sua moto. O mordomo explicou ao semanário "Le Point" que agiu por iniciativa própria, aterrorizado pelo ambiente envenenado que vivia na casa.

Na opinião de muitos, não é preciso ser Sherlock Holmes para imaginar que além do medo do empregado a origem do frenesi detetivesco do mordomo pode ter um motivo mais obscuro. O advogado da idosa já acusou o advogado da filha de estar por trás de tudo. Seja como for, o conteúdo explosivo das gravações, já em poder da imprensa, deixou de pertencer à esfera privada da família para se transformar em assunto quase de Estado.

Em uma dessas gravações, Patrice de Maistre, o administrador da fortuna de Bettencourt, explica à senhora: "O marido de madame Woerth, que a senhora emprega, uma de minhas colaboradoras, é o ministro do Orçamento, é muito simpático e também cuida de seus impostos, o que considero não pouca coisa. É muito simpático, um amigo". Em outro dia Maistre avisa Bettencourt de que vai cuidar "de certa conta de 65 milhões de euros que tem na Suíça", devido aos acordos antifraude com a França. "É preciso levá-la para Hong Kong, Singapura ou Uruguai. Se a devolvermos à França, será complicado. Assim a senhora ficará tranqüila."

Das conversas não se deduz que a mulher do ministro Woerth fizesse algo delituoso, mas: estava a par das finanças obscuras de Bettencourt? Alertou seu marido, então ministro encarregado de combater a fraude fiscal? Por enquanto, sua demissão como assessora da milionária é, segundo vários líderes da oposição, uma espécie de reconhecimento de que não agiu bem ao aceitar o cargo. O deputado socialista Arnaud Montebourg foi mais longe: "Temos um ministro do Orçamento [que era o cargo que tinha no ano passado no momento em que ocorreram as conversas] que ao mesmo tempo era o tesoureiro da UMP [o partido de Sarkozy], cuja mulher trabalhava organizando a fraude fiscal da senhora Bettencourt".

A milionária, por sua vez, depois do escândalo levantado pela publicação das gravações, já anunciou que vai ordenar que todas as suas contas no estrangeiro voltem à França. E o mordomo? Ainda protegido pelo anonimato, depois de ser interrogado pela polícia, deverá enfrentar uma denúncia por "violação da intimidade".

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Fonte: http://noticias.uol.com.br

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