Pesquisando na internet deparei-me com este artigo de Roberto de Castro Neves.
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Segue...
Não basta colocar a foto do presidente na coluna social A S BRUXAS ANDAM SOLTAS NA EMPRESA. Houve aquela confusão com os clientes que resultou em várias cartas de reclamação aos jornais. Depois, na esteira dessas reclamações, uma jornalista escreveu uma série de matérias espinafrando a companhia. Teve até um político despirocado que andou tirando partido da questão dizendo coisas absurdas sobre o caso. No meio disso tudo, muito diz-que-diz-que entre os empregados, o pessoal parece desmotivado e a produtividade caiu. Para completar, as vendas desabaram nesse semestre. E desabaram feio. Este cenário surge na reunião de diretoria. Na verdade, o tema não fazia parte da pauta da reunião, até porque o tal desagradável episódio com os clientes era tido por todos como águas passadas. A grande vedete da reunião era, sim, o medíocre resultado de vendas do semestre que, para desespero do diretor financeiro, já mandara para o espaço o objetivo anual da empresa. Interessante é que o quadro acima descrito não foi apresentado pronto e acabado. Ele foi surgindo pouco a pouco, à medida que cada diretor comentava onde seus calos doíam. Cada elemento desse cenário - a insistência da mídia, a queda no índice de satisfação dos clientes, o clima de bode na organização - ia sendo apresentado um a um, como um fato independente, sem relação com os demais. Mas acabou sendo consenso que a coisa toda estava muito estranha. E, pela primeira vez numa reunião de diretoria, a culpa de todos os problemas não sobrava para o governo e sua política econômica.- Deveríamos contratar alguém para fazer um trabalhinho de relações públicas - arriscou timidamente um dos diretores. A sugestão não é nova. Volta e meia ela ressurge e é sumariamente derrubada. Como sempre, o diretor financeiro diz que não há dinheiro e lembra os gastos maciços em propaganda. O de marketing torce o nariz. RH desconversa com um: "Não sei se é por aí". E o diretor jurídico pergunta: "Data venia, RP pra quê?" Como nenhum dos presentes sabe responder, a solução é: talvez no ano que vem. Pronto. É a senha para todos voltarem à realidade dos negócios. Momento seguinte, começa o desfile dos centenários concursos para estimular vendas e de outros tantos velhos conhecidos programas de redução de despesas, das viagens internacionais ao cafezinho, passando, é claro, pelo enxugamento dos efetivos.Tenho certeza de que você já viu esse filme. Infelizmente é assim. O caminho ser percorrido entre a relação desses fenômenos estranhos - às bruxas soltas - e a necessidade de um trabalhinho de RP é longo. Aliás, muitas empresas nem esse trecho, percorrem. Perdem clientes, bons funcionários, quebram, mas não se rendem a essas coisas de americano. Outras, de postergação em postergação, vão consumindo suas preciosas energias tapando o sol com a peneira. Um dia, porta arrombada, moral no chão, dá-se o salto qualitativo:- Precisamos do trabalho de um RP. Contratemos um assessor de imprensa. Aleluia! Bem, aleluia em termos. Saltamos de uma situação em que se ignorava a necessidade de serviços de RP para outro estágio, em que ainda se desconhece o que vem a ser RP, seu alcance, suas tecnologias, seus fundamentos. No Brasil, assessoria de imprensa é uma espécie de porta de entrada da atividade de RP. O positivo é que as empresas podem, sem saber, estar plantando dentro delas a semente da atividade no seu sentido global. É claro que esse assessores vão pagar todos os seus pecados no processo entre a semente e o fruto. Cedo vão descobrir que, na verdade, foram contratados para dar um urgente "cale a boca" naquela jornalista encrenqueira. Seus préstimos também serão solicitados para colocar, na primeira página, as declarações inteligentes do presidente da empresa e, nas colunas sociais, notinhas simpáticas sobre ele e sua adorável família. E vão frustar aqueles que os contrataram se a tal jornalista resistir aos seus encantos, almoços, jantares e brindes e continuar pegando no pé da empresa. Esses hoje denominados assessores de imprensa terão prestado um grande serviço se, apesar de tudo, conseguirem vender o peixe - de que clientes, funcionários, acionistas, imprensa, autoridades, políticos, sindicatos, opinião pública em geral e outras tribos fazem parte de um mesmo ecossistema que precisa ser olhado e tratado como um todo. E mais: que o profissional para tratar dessas coisas chama-se relações-públicas. Aqui e na China.
O artigo Data Venia, RP pra quê?, foi publicado na revista EXAME/6 de outubro de l999 página 162. Roberto de Castro Neves é consultor de empresas.
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