JR Raphael, da PC World / EUA
23-03-2009
Serviços vasculham a web em busca de informações públicas que, agregadas, revelam mais de você do que gostaria que soubessem.
Recentemente descobrimos coisas sobre o advogado que atende um dos nossos aqui na Redação (da PC World / EUA). Coisas que não precisávamos conhecer, quem sabe nem deveríamos ter acesso: ele tem 55 anos, ouve músicas da banda Creed e grita como uma criança quando está em uma montanha-russa. Ah! Também relaxa com tratamentos em SPAs e está pensando em comprar um cortador eletrônico para os pelos do nariz. E isso é apenas o começo.
Agora vamos aos detalhes: nunca passamos um dia na companhia desse cara. Todos esses detalhes foram obtidos a partir de pesquisas em redes sociais na web. E sabe o que é pior: é provável que não tenha a menor ideia de ter deixado rastros tão vívidos para trás.
Nesta época de compartilhamento social, as pessoas esperam que alguns seus pensamentos sejam publicados. Mas conforme vão inserindo mais e mais informações sobre elas online, ferramentas especializadas de busca estão facilitando ainda mais encontrar esses dados e a colocá-los juntos em um perfil super detalhado (e potencialmente fácil de acessar) de suas vidas virtuais.
Agora reflita um minuto: mesmo que tais informações não estejam consolidadas em uma única página, você realmente gostaria que o mundo todo soubesse que você procurou por curas de doenças graves ou que postou algum comentário fanático por Star Trek?
Nas entranhas da webVocê já deve ter ouvido muitos termos surgindo em torno dessa recente e crescente ferramenta de busca. Alguns serviços gostam de serem chamados de utilitários de “busca social”, enquanto outros preferem a frase “busca pessoal”.
Muitos ostentam sua habilidade de procurar dados dentro das “profundezas da web”, local aonde nem o Google chegou. “Mesmo que muitas pessoas pensem que as buscas na web são basicamente um espelho index do Google, na verdade existem muitas informações que o Google não alcança”, diz Harrison Tang, fundador e CEO do Spokeo – que se descreve como um serviço de ferramenta de busca social de pessoas.
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O Spokeo, assim como seus concorrentes Pipl e CVGadget, foi desenvolvido para que você possa buscar informações sobre amigos, parentes e até pessoas indesejadas. Porém, o Spokeo vai além do que os outros serviços, importando todos os seus contatos de e-mail. A partir disso, e com o pagamento de alguns dólares mensais, ele monitora continuamente seus contatos e irá informar caso alguma dessas pessoas faça alguma atualização ou ação em qualquer parte do mundo online - a página inicial do site promete ajudá-lo a descobrir fotos pessoais, vídeos e segredos de seus amigos e colegas.
Cada bit de informação - visto separadamente - pode parecer insignificante, mas o efeito acumulativo de vê-los reunidos de modo organizado como em um portfólio é suficiente para deixar qualquer um preocupado.
“Identidade agregada é na verdade um novo tipo de identidade”, diz Tang, teorizando sobre o porquê de muitas pessoas usarem a palavra “perseguidor” para descrever o serviço. “Muitas pessoas sabem que possuem uma página pública no MySpace e que possuem um perfil público no Twitter. Mas quando isso é combinado, cria-se na verdade uma nova identidade.”
Como esses serviços funcionamO sistema do Spokeo utiliza os endereços de e-mail dos seus contatos para rastrear as atividades deles em algumas dezenas de serviços, desde blogs e redes sociais até sites de compartilhamento de fotos e vídeos. Isso quer dizer que as fotos dos seus filhos compartilhadas no Flickr há dois anos (ou até mesmo aquelas imagens menos inocentes de suas férias há anos) irão surgir logo abaixo do seu nome, segundos após alguém pesquisar por você.
Fontes menos óbvias como a lista de desejos da Amazon, um playlist no Pandora e até mesmo uma avaliação de um filme surgirão na lista de detalhes e que você provavelmente não tinha ideia de que ainda estivessem por aí – coisas como (no caso do tal advogado) uma infinidade de sessões de relaxamento e sua preocupação com a aparência do nariz.
Aliás, as informações sobre a idade do advogado foram encontradas no seu antigo perfil do MySpace e seu comportamento na montanha-russa foi visualizado em um vídeo no YouTube; além da informação no Pandora de que ele gosta de Creed e que tinha criado uma estação de rádio chamada “Spa Radio”. E quanto ao cortador de pelos de nariz eletrônico, ele pode agradecer à lista de desejos da Amazon por ter enviado essas informações.
Tudo à vendaOutros serviços também acessam os mesmos dados e então vendem essa informação sob o nome de pesquisa de marketing. Um claro exemplo é a Rapleaf, empresa que descreve seus serviços como “consultor de dados e pessoas”. Os clientes pagam milhares de dólares para receber um perfil social detalhado compilado de indivíduos de sua própria base de dados.
Assim como o Spokeo, as informações estão todas publicamente disponíveis – o Rapleaf apenas coloca todas juntas. “Os dados que as pessoas postaram estão lá para qualquer um acessar e ver”, diz Joel Jewitt, vice-presidente de desenvolvimento de negócios da empresa. “Contanto que você não vá além deste ponto, esta é a norma da privacidade hoje em dia”.
De acordo com Jewitt, a maioria dos clientes da Rapleaf está apenas tentando entender como usar as mídias sociais mais efetivamente para o marketing. Um fabricante de carros, por exemplo, talvez queira saber que tipos de carros seus clientes estão procurando e discutindo em serviços sociais na internet. De posse da lista dos e-mails dos clientes da empresa, o Rapleaf vasculha na web e rastreia as informações, pessoa por pessoa. “É basicamente o padrão de espionagem na web”, diz Jewitt. “Nós recriamos uma forma automática de como uma pessoa do governo federal faria se estivesse procurando por isso.”
Exposição eletrônicaQualquer que seja o foco, usuário final ou corporação, os serviços têm uma coisa em comum: ao contrário das ferramentas de busca pública do passado, esses novos utilitários constróem um dossiê altamente detalhado sobre você baseando-se em informações que você mesmo publicou – uma circunstância que pode deixá-lo com um leve sentimento de desconforto.
“O que eles fazem é tornar palpável a onipresença da internet e as mudanças de direção que o mundo toma”, diz o especialista em privacidade na internet Kevin B. McDonald, também vice-presidente executivo da Alvaka Networks, uma empresa de gerenciamento de rede. “Eles transformam todo o conceito de compartilhamento de informações e as aproximações sem barreiras que a internet proporciona em algo muito real para as pessoas.”
E a realidade pode ser dura se essa informação for absorvida pelas pessoas erradas: um cliente curioso, um chefe atrás do passado do funcionário, ou qualquer outra coisa que a imaginação permitir. Um estudo recente apontou que metade dos usuários britânicos da internet admitiram tê-la usado para procurar informações de algum conhecido.
A facilidade com que alguém pode monitorar cada passo virtual que você dá certamente agrega uma nova dimensão da ideia da fixação. “É um pouco perturbador”, diz Marc Rotenberg, diretor executivo do Eletronic Privacy Information Center. “Se a informação é distribuída, então esta é na verdade uma forma de privacidade. Mas quando ela é reunida em um único lugar, então se criam novos riscos.”
Rotenberg não concorda com empresas que juntam informações pessoais, mas públicas, para criar um perfil único. “O fato de que alguém tornou algo público não significa que outra pessoa possa vender isso”, contesta. “Acredito ainda que se for existir um mercado para dados pessoais, o usuário deveria receber uma porcentagem sobre qualquer valor que esse dado possa ter.”
Assumindo o controleVale lembrar que nenhum desses serviços está fazendo algo ilegal. As informações que eles juntam são dados que qualquer pessoa que saiba onde estão – e tem tempo para fazer isso – poderia encontrar.
Portanto, em vez de ignorar o imenso arquivo que foi coletado sobre você, McDonald sugere que você o utilize como uma ferramenta para entender e controlar sua identidade online. “Cheguei a um ponto onde antes de ser guiado pela internet, eu pretendo utilizá-la para chegar onde quero”, afirma. “Tudo o que você pode fazer é aprender a conviver com isso. Essas são as delimitações do mundo em que vivemos”, completa McDonald.
Nota do editor: Enquanto apurava esta matéria, JR Raphael descobriu uma estação de rádio do Coldplay que eu criei no Pandora em 2006; descobriu que procurei por um cabo de áudio 3.5mm compatível com o iPod em 2007; e descobriu qual era o meu nome de usuário do site StumbleUpon.
Fonte: http://pcworld.uol.com.br
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