quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Histórias infantis revelam os medos e os desejos das crianças

Harry Potter, Turma da Mônica e contos de fada aproximam pais e filhos

Era uma vez o casal que detestava contar histórias para seu filho. A criança pedia, chorava, mas nada de elfos, bruxas ou heróis fantásticos aparecerem... Num sono triste, ela adormecia sozinha até o dia em que aprendeu a ler e, sozinha, descobriu um mundo cheio de fantasias nos deliciosos contos de fada. (acompanhe cada fase do desenvolvimento do seu bebê)

Histórias não garantem a felicidade nem o sucesso na vida, mas ajudam. Elas são como exemplos, metáforas que ilustram diferentes modos de pensar e ver a realidade e, quanto mais variadas e extraordinárias forem as situações que elas contam, mais se ampliará a gama de abordagens possíveis para os problemas que nos afligem , escrevem os psicanalistas Diana e Mario Corso, autores do imperdível Fadas no divã a psicanálise nas histórias infantis (Editora Artmed, 328 páginas).
Um grande acervo de narrativas é como uma boa caixa de ferramentas, na qual sempre temos o instrumento certo para a operação necessária (...) Uma mente mais rica possibilita que sejamos mais flexíveis emocionalmente, capazes de reagir de maneira adequada a situações difíceis, assim como criar soluções a nossos impasses , completam.

No livro, eles discutem em linguagem clara e acessível a importância da ficção para o decorrer de uma infância sadia e revelam ainda que mensagens estão ocultas nos enredos mais queridos pelos pequenos. Rapunzel, Branca de Neve, O Patinho Feio, a Turma da Mônica e até Harry Potter recebem da dupla uma análise cuidadosa, cheia de insights que ajudam os pais a entenderem melhor as preferências e as inseguranças dos pequenos. (escolha uma boa escola para seu filho)

A seguir, você confere algumas pinceladas sobre as interpretações feitas pelos autores e pode entender um pouco mais as necessidades dos seus filhos, quando preferem ouvir este ou aquele conto. Também é uma ocasião única para compreender por que você, pai ou mãe, escolhe uma história especial para narrar.

Patinho feio
A saga da ave que nasceu de um ovo grande e esquisito costuma revirar os olhinhos das crianças menores. Rejeitado, o pequeno cisne não encontrava a simpatia em meio aos patos. E acabou sendo obrigado a ir embora. Vagando da casa materna até outras paradas, o pobre Patinho Feio sofre até se sentir bem recebido, o que só acontece depois que ele cresce. A suspeita que todos temos é de sermos incapazes de nos igualarmos à fantasia que se avolumara no ventre de nossa mãe , afirmam os autores.

Esse temor nos acompanhará para sempre, justificando o sentimento de rejeição que nos identifica ao Patinho . Em geral, as crianças que gostam dessa história estão lidando com o sentimento de não satisfazer completamente as expectativas dos pais e aprendendo a reagir frente às hostilidades presentes até nos ambientes onde o amor transborda. (lide com manhas sem perder a calma)

João e Maria
Cruel, mas de final feliz, o conto sobre as duas crianças abandonadas na floresta continua entre os favoritos das crianças, agradando meninos e meninas em igual medida. Isso porque trata de um tema universal: o crescimento. Crescer traz danos, mas também traz perdas. Estas últimas fazem com que a independência conquistada pelo filho seja vivida como abandono por parte dos pais, já que é muito difícil, neste momento, se reconhecer como autor da própria história , esclarece a obra.
A casa de doces na floresta e mesmo a aventura de sair por aí sem destino deixam os irmãos encantados. Os perigos que eles passam e as conquistas obtidas atentam para a mudança interior dos dois simbolicamente, até o caminho de volta é diferente daquele da partida, apontando que eles já não são mais os mesmos.
A casa para o qual retornam João e Maria também não é mais a mesma, não há mais nela uma figura materna ameaçadora, e as riquezas foram conquistas pelas próprias crianças , explica Fadas no divã.

Chapeuzinho Vermelho
O drama da perda da inocência é o que há de mais evidente nesta história. Chapeuzinho é uma criança com a ingenuidade de quem não sabe (e ainda não suporta saber) sobre o sexo, mas sua intuição lhe diz que há algo mais que inspira os seres humanos , traz o livro. Na narrativa, a curiosidade infantil é o que mais chama atenção (a menina do capuz esquece as ordens da mãe para passear na floresta, olhar as flores e dar ouvidos a um desconhecido).

Mas nada disso acontece por desobediência premeditada, mas sim porque a vontade conhecer mais sobre o mundo dos adultos é muito grande. E as dúvidas, por mais duro que seja para alguns pais com o tema, começam pelo próprio corpo da criança. Ela sabe que ali existe algo mais e, quando vê uma chance, não abre mão de explorá-la. O propósito? Desvendar o que, até então, não passa de uma suspeita. (incentive a curiosidade das crianças)

Rapunzel
A menina que é aprisionada numa torre por uma estranha madrasta fascina outras meninas. Por ciúmes, a bruxa não permite que Rapunzel fale com ninguém. Tudo corre bem até a chegada da adolescência quando, isolada, a jovem passa a cantar e sua voz chega à floresta, atraindo a atenção de um príncipe. O desejo desse homem será o gancho necessário para a separação da mãe , explica o livro.

Uma separação reforçada quando a bruxa decide cortar as tranças da filha postiça, a quem ela tanto ama. No fim, Rapunzel acaba decidindo ir embora. Mas não sai pela porta, e sim pela janela, já que a saída oficial não seria aceita pela mãe.

Branca de Neve
O amor e amizade entram em cena nesta bela história. Por um lado, Branca de Neve tem de se a ver com a apatia do pai frente aos desmandos da madrasta má. Mas, por outro, encontra o amparo de que precisa na bela casinha onde moram os anões todos muito diferentes entre si, mas vivendo em condições idênticas (a mesma cama, a mesma comida, o mesmo trabalho...). As meninas, na primeira infância, são tão amorosamente dedicadas às mães como os meninos.

Porém, enquanto estes continuam amando alguém similar à mãe pelo resto da vida (desde, é claro, que sejam heterossexuais), elas terão de abrir mão desse amor para experimentar com o pai os rudimentos do que será seu objeto amoroso no futuro . Segundo os autores, esta transição ocorre sob queixas de abandono e descuido (e a relação de raiva entre a madrasta e Branca de Neve ecoa com maestria esse conflito). Mas é apenas graças ao feitiço da bruxa que o príncipe encontra Branca (linda e corada, numa urna cristalina) e ambos se apaixonam, vivendo felizes para sempre.

Harry Potter
O fervor causado a cada lançamento da série sobe o bruxinho só reforça a importância dos elementos simbólicos que a história contém. Os filmes e os livros arrebatam a atenção das crianças que ainda nem sabem ler e mantêm este interesse até a adolescência (e começo da idade adulta, em muitos casos). Por que a curiosidade persiste em idades tão distintas? No palpite de Diana e Maria isso acontece, em grande medida, pelo local onde toda a ficção se desenvolve: uma escola. A escolaridade para as crianças contemporâneas se inaugura praticamente junto à capacidade de falar, quando não antes , escrevem. Ali, elas aprenderão a dividir, a respeitar, esperar a vez e conquistar o espaço .

As dificuldades para encontrar um grupo, conquistar a aceitação do sexo oposto, firmar identidade ante os adultos são comuns e desafiam crianças e jovens (além de trazerem à tona as memórias de quem, há muito, passou por essa fase e hoje lembra com saudade aqueles momentos). (acabe com o ciúme entre os irmãos)

Turma da Mônica
Os gibis da turminha criada por Maurício de Sousa são praticamente uma unanimidade entre as crianças (e, não raro, entre os pais delas). Apesar de bastante simples, os personagens encarnam os dilemas caros à infância: Cebolinha sofre para vencer a força física da Mônica a partir dos seus planos intelectuais (invariavelmente fracassados). Ele nunca se cansa de tentar e, talvez essa seja a garantia de sua firmação como menino , descreve o livro.

A guerra entre os dois, segundo os autores, ainda pode ser entendida como representante da que as crianças, em geral, travam contra sua mãe. Afinal, elas não se entregam de tão bom grado à supremacia de poder da mãe, submissão que, para os meninos, é ainda mais constrangedora (...) Mônica,como uma mãe, manda e pronto. Não se questiona nem sente um glamour especial pelo seu pretenso reinado, apenas administra os humores dos que estão sob sua jurisdição e ainda os protege de perigos maiores. Já o Cascão é emblema de um sentimento familiar a qualquer criança: o medo além de personalizar a birra infantil contra qualquer ritual de higiene, começando pelo banho.

O banho sempre virá, a cara será esfregada para tirarem os restos de comida, a mão da criança será posta em baixo d água para tirar aquela papa de banana que estava sendo amassada com tanto prazer. De certo modo, Cascão encarna o protesto contra essas regras .

Forma o quarteto principal a esfomeada Magali, que supre qualquer carência a partir da comida. O comportamento seria o sonho de muitas mães, em pânico com a recusa em comer de seus filhos. Mas acaba se tornando o pesadelo da mãe da Magali, que sofre por não conseguir jamais satisfazer a filha. Trata-se de uma espécie de revanche que as crianças alimentam (como prova Magali), mas só manifestada na adolescência na maioria dos casos. (estimule a imaginação do seu filho)

Fonte: http://www.minhavida.com.br

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