quinta-feira, 15 de maio de 2008

No meio da serra, Jundiaí vira pólo da aviação geral

No 1.º trimestre, aeroporto registrou mais de 1/3 dos pousos e decolagens do ano passado inteiro
Camilla Rigi e Diego Zanchetta

Encravado entre os 191,7 quilômetros quadrados da Serra do Japi, umas das maiores áreas estaduais de preservação permanente, o Aeroporto de Jundiaí, a 55 quilômetros de São Paulo, registrou no primeiro trimestre 14.071 pousos e decolagens, mais de um terço das operações realizadas ali em todo o ano de 2007, que foram 36.874. O crescimento da movimentação fez com que a Aeronáutica anunciasse, ontem, a transferência da torre de controle provisória do Aeroporto de Congonhas, na zona sul da capital, para a cidade do interior.“Acreditamos que ela (a torre) deva ficar lá por dois anos, até que o Daesp (Departamento de Aviação do Estado de São Paulo) construa uma estrutura definitiva”, disse o presidente da Comissão de Implantação do Sistema de Controle do Espaço Aéreo (Ciscea), brigadeiro Carlos Vuyk de Aquino.A projeção do Serviço Regional de Proteção ao Vôo de São Paulo (SRPV-SP) é de que, até o fim do ano, o movimento em Jundiaí - um dos principais centros no País de aviação para jatinhos, táxis aéreos e helicópteros - cresça 17%. No ano passado, o aeroporto já havia crescido 15% em relação a 2006. O aumento de movimento nos três primeiros meses deste ano, quando houve restrições à aviação executiva em Congonhas, foi de 69,5% em Jundiaí. Foram 156 pousos e decolagens diários de janeiro a março, ante 92 no mesmo período de 2007.Mesmo com a volta de parte dos pousos de pequenas aeronaves em Congonhas, a Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag) avalia que o terminal de Jundiaí - cuja pista principal em 2007 foi ampliada em 220 metros, e que tem oito novos hangares - vai ajudar a absorver o crescimento natural do setor. Entre 2005 e 2007 a aviação geral cresceu 41% no País. “Jundiaí é uma boa opção operacional para absorver a demanda”, disse o diretor-executivo da Abag, Adalberto Febeliano.Antes da transferência da torre, o Daesp deverá construir a base para a estrutura metálica. Todos os equipamentos também serão emprestados pela Aeronáutica. Mas os controladores devem ser contratados pelo Estado, segundo o chefe do SRPV-SP, coronel Jeferson Ghisi Costa. Hoje a coordenação de pousos e decolagens em Jundiaí é feita por rádio pelos próprios pilotos. Eles sintonizam uma mesma freqüência para saber se há mais de um avião na região e o que cada um vai fazer. “Com a torre, o procedimento fica mais seguro, e acredito que muitos pilotos que não vão para Jundiaí passarão a ter o aeroporto como opção”, disse Febeliano. Os equipamentos que serão emprestados com a torre são de última geração, iguais aos que foram instalados em Congonhas. Todas as telas são sensíveis ao toque e agilizam o trabalho dos controladores. PROTESTOSEm Jundiaí, o Ministério Público, entidades em defesa da Serra do Japi e moradores de condomínios próximos ao aeroporto já reclamam do fluxo de aeronaves na região. O aeroporto fica no entorno de uma mata da serra tombada pelo Ibama, com espécies de aves como maritacas e gaviões, além de esquilos e porcos-espinhos.“O aeroporto não tem mais para onde crescer. As intervenções até agora, como o aumento da pista, obedeceram os trâmites legais. Agora, com os hangares instalados em volta da pista, não há nova margem para crescimento”, afirma o promotor de Meio Ambiente de Jundiaí, Cláudio Bataglini. “O Estado não pode deixar de estudar alternativas de aeroporto em cidades vizinhas, como Sorocaba, e saturar Jundiaí. Aqui não dá para descerem aeronaves maiores que as da aviação geral.”Para Paola Esteves Teixeira, presidente do Conselho Gestor da Serra do Japi, as autoridades não dimensionam os riscos da circulação de aeronaves em Jundiaí. “Bem próximo da cabeceira do aeroporto temos uma indústria química. É perigoso, sem contar o risco de acidentes dos aviões com as aves”, alerta a ambientalista. “Com o aumento dos vôos, o reflexo negativo até agora tem sido mesmo o barulho. Não tivemos registro de incidentes após o crescimento no número de vôos, mas, em anos anteriores, aviões caíram porque não ganharam altitude antes de cruzar os morros da serra”, acrescentou.O aeroporto também fica ao lado de um bairro residencial, cercado por condomínios de alto padrão. Moradores reclamam do barulho dos aviões e do trânsito gerado na Avenida Antonio Pincinato, paralela à serra. “Pela manhã, quando o movimento de pousos e decolagens é grande, estamos tendo congestionamentos que não existiam nesse trecho do bairro”, reclama Katia Soares, síndica do condomínio Ecovillage Japi 1.
Contribuição VDRuiz

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